Qualquer equipa, especialmente uma equipa de design, mais que o simples somatório de talentos, é importante que reflita na sua essência, uma identidade singular. Uma forma particular, tanto quanto se conseguir, única e irrepetível, que permita à equipa encarar todo e qualquer desafio de design.
A construção de uma identidade enquanto equipa, está muito longe de ser uma ciência exacta. Esta identidade depende não só das pessoas que a compõem, que são em todos os casos o essencial de qualquer equipa, mas também muito dos seus processos, ferramentas, rituais, artefactos e contexto em que se insere. Seja numa equipa de produto digital, um atelier de design de comunicação, uma agência de publicidade, um departamento de marketing, ou qualquer outro contexto, a equipa de design, dependente da sua missão, terá que encontrar e construir tudo aquilo que defina a sua identidade própria enquanto conjunto, mais do que a simples soma de várias partes.
Linguagem e definições comuns
Para o bem e para o mal, o design sempre foi uma área bastante plural e diversificada nos processos e ferramentas de trabalho. Talvez por defender na sua essência uma visão adaptada a cada tipo de desafio, a abordagem de design, tende-se a transformar e reinventar conforme seja a encomenda a que tem que responder ou a equipa que a leva por diante.
A riqueza de processos e ferramentas que isto traz, tem também um lado negro, a linguagem incoerente. Esta volatilidade de uniformidade, faz com que seja difícil muitas vezes articular um vocabulário comum não só entre as várias equipas de design, mas também e principalmente na relação com o mercado em geral.
A complexidade e multiplicidade de definições e linguagem, é bastante evidente numa série de áreas do design, muito em particular no design digital e nas áreas de user experience (UX) e user interface (UI). Façamos um exercício simples, se pedirmos a duas equipas diferentes para definirem a que diz respeito um “protótipo”, será que as duas formulações serão similares? Outro exemplo, mesmo dentro da mesma equipa, será que todos os designers, conseguem limitar as fronteiras identitárias entre os conceitos de “usabilidade” e “acessibilidade”?
Definição de conceitos
É importante nesta discussão discernir dois tipos de desafios. O primeiro desafio está relacionado com a própria definição conceptual e académica dos termos. Por exemplo a definição de “usabilidade” e de “acessibilidade” está amplamente estuda e com as referências bibliográficas certas, não será complicado definir cada um dos conceitos.
Mas, existem outros conceitos, como é o caso do “protótipo” que embora possa também ter uma base conceptual bastante bem definida, levanta muitas vezes dúvidas. Por exemplo, alguns autores defendem a existência de três tipos de protótipos (baixa, média e alta fidelidade) e outros apenas dois (baixa e alta fidelidade). Existem ainda alguns autores que fazem a distinção entre protótipos estáticos e protótipos interativos. Por tanto, existirá sempre uma zona cinzenta que conforme cada designer e equipa pode levantar algumas dúvidas e que importa uniformizar, pelo menos dentro de cada equipa de design.
Glossário comum
Não existem soluções mágicas para este desafio de uniformização da linguagem e terminologias dentro da equipa. Contudo, um bom contributo para a resolução deste problema, poderá ser a criação de um glossário partilhado, que defina de forma muito simples, os principais termos utilizados no dia-a-dia da equipa de design.
Este glossário, poderá ser algo tão simples como um documento partilhado, via Google Drive, Notion ou outra ferramenta similar, ou então, algo mais elaborado e próprio da equipa. No essencial o mais importante para este glossário de equipa é que ele contenha, não só a listagem dos principais termos utilizados pela equipa, mas também uma definição muito simples e sintética, fácil de compreender, mas também fácil de explicar a designers e não só.
A elaboração deste glossário de equipa, pode e deve ir evoluindo ao longo do tempo, preferencialmente com a discussão regular dentro da equipa do sentido de cada conceito. Quanto mais discutido e consensual for a definição de cada termo, maior será a aceitação e adopção por parte de todas as pessoas da equipa. Este glossário, pode também fazer parte do processo de onboarding na equipa de novos elementos.
Alguns exemplos interessantes
Existe na indústria muitos exemplos interessantes de glossários de definição dos principais termos utilizados pelas equipas. Quer seja a nível nacional ou internacional, não é difícil encontrar inspirações ou excelentes referências. Para ajudar nesta procura, aqui ficam algumas sugestões de visitas:
- Bullshit free dictionary
- UX Beginner glossary
- Userzoom friendly dictionary
- UX mastery collaborative glossary
- Princeton University UX glossary
- UX 24/7 glossary
- Testingtime UX glossary
- Designlab UX design glossary
- Koru ultimate glossary UI/UX terms for designers
- Ferpection user research glossary
Relação com outras equipas
A definição de um glossário de terminologias, uniforme a toda a equipa de design, seja qual for o seu contexto de trabalho é também um contributo muito valioso na relação com as demais equipas. Seja com a equipa de development, marketing, estratégia, negócio ou qualquer outra equipa, a partilha destas definições, ajuda a que também as outras equipas possam compreender um pouco melhor o funcionamento da equipa de design.
Na relação entre as várias equipas de trabalho, a linguagem é aliás um dos grandes pontos de atrito. Muitas vezes, os problemas de comunicação entre equipas, não está tanto na falta de sentido de cooperação, mas sim, simplesmente na utilização de linguagens diferentes, em alguns casos referentes às mesmas palavras. Por exemplo, a definição conceptual de “personas” entre o UX e o marketing é substancialmente diferente, o que pode levantar muitas dúvidas na relação e comunicação destas duas equipas.
Dicionário DXD
Sobre o tema do glossário e o exercício de definição das principais terminologias da indústria do design digital, o Dicionário DXD procura constituir-se como mais um contributo simples. Embora seja uma ferramenta em evolução permanente, a sua versão atual, disponível através do blog, reúne já centenas de referências de termos, organizados em várias categorias.
Cada um dos termos do dicionário, tem também associadas uma série de sugestões de leitura de conteúdos de muitos autores diferentes o que pode ajudar a perceber outras perspectivas. Muitos dos termos do dicionário, têm também já associados uma pequena descrição e definição.
O mais importante não só no Dicionário DXD, mas principalmente sobre o glossário partilhado das equipas de design, é que nada esteja escrito na pedra e seja eterno. O design tem nos últimos anos sofrido uma evolução imensa, especialmente na sua variante digital. Isso constitui-se como um desafio muito concreto, à evolução não só dos processos e ferramentas de trabalho, mas principalmente da visão e papel do design na sociedade.
Fotografia © Edho Pratama (Unsplash)