Não sei muito bem como aqui chegaste, porque é que os termos UX e UI te chamaram atenção, mas seja como for, ainda bem que aqui estás.
Se estás agora a começar o caminho de descoberta das disciplinas de user experience (UX) e user interface (UI) é sinal que alguma coisa te chamou a atenção e isso é fantástico. A indústria digital precisa de pessoas (designers) curiosas pelo mundo que as rodeia e capazes de desafiar convenções, ou no teu caso, o próprio percurso profissional.
Tu já tens experiência (muita)
Podes cair na tentação de dizer que não tens experiência na área. Que nunca fizeste nenhum tipo de estudo de user research nem pensaste uma arquitetura de informação. Que nunca definiste as guidelines de visual design nem desenhaste um protótipo ou moderaste um teste de usabilidade. Que antes de aqui chegar eras designer gráfico, engenheiro, psicólogo, veterinário, ou qualquer outra profissão e por isso sentirás que o caminho será mais difícil. Não será difícil, será trabalhoso. Nada acontecerá sem muito trabalho mas também sem humildade, curiosidade e aprendizagem.
É certo que poderás pensar que começas agora um caminho absolutamente novo, mas não começas. As disciplinas de UX e UI só existem porque existem pessoas. Pessoas com necessidades muito específicas no dia a dia, como pagar as suas contas de casa, consultar o seu saldo no banco, ver uma série na televisão, encomendar o jantar, comprar uma viagem ou um sem fim de necessidades, que através dos produtos e serviços digitais que ajudamos a construir, podem tornar o seu dia a dia muito mais simples.
Independentemente do que tenhas feito antes de aqui chegares, há uma coisa que já tens em comum com qualquer UX/UI Designer: a preocupação com as pessoas. Dizemos muitas vezes que o principio do nosso trabalho é “calçar os sapatos dos utilizadores” e este será sempre o teu principal desafio. A não ser que tenhas vivido numa ilha deserta, já trabalhaste certamente em equipa, já tiveste que perceber o ponto de vista de alguém que tinhas do outro lado (utentes, clientes ou outro nome que utilizavas) e tudo isso te será muito útil neste teu novo desafio.
Para além disso, todo o conhecimento que possas ter noutras áreas técnicas será sempre uma mais-valia para esta tua nova missão. Ou não fosse o design, em geral, e o UX/UI, em particular, disciplinas multidisciplinares. Não esqueças ou descartes nada daquilo que aprendeste até aqui, pois isso são já as tuas ferramentas especiais para tudo aquilo que aí vem.
UX? UI? Qual é a diferença?
Se estás agora a mergulhar nesta área, vais ouvir falar muitas vezes da diferença entre UX e UI. São duas disciplinas diferentes, embora muito próximas e que te abrem um sem fim de oportunidades. Daqui para a frente, podes escolher participar nos projetos como UX Designer, UI Designer ou então como UX/UI Designer.
Contudo, embora possa parecer um pouco confuso ao princípio, a diferença entre as duas disciplinas e os vários chapéus que podes utilizar no mesmo projeto, é bastante simples de perceber. Imagina que queres criar uma nova aplicação móvel. As primeiras perguntas a que deverás responder no projeto são:
- Porque é que as pessoas precisam desta aplicação?
- O que é que ela pode fazer para melhorar a vida das pessoas?
- Quem são essas pessoas?
Cabe ao UX Designer, através de todos os processos, métodos e ferramentas, ir à procura das respostas. Por outro lado, depois de encontrares as respostas às primeiras perguntas, surge uma outra no projeto:
- Como é que as pessoas vão utilizar as funcionalidades da aplicação?
E é aqui que entra o UI Designer e todas as suas preocupações com a dimensão visual e interativa da aplicação que se procura construir.
De um lado, temos o UX Designer focado em definir o propósito e relevância da nossa aplicação. Do outro, temos o UI Designer preocupado com o interface que as pessoas vão utilizar.
Podes escolher um destes dois chapéus ou simplesmente utilizar os dois. Esta é uma escolha tua. No final do dia, de um lado, de outro ou no meio das duas disciplinas, lembra-te que as pessoas são motivadas pelas emoções e é isso que a tua aplicação também deve despertar nas pessoas.
Isto é um trabalho (muito) sério
É importante que saibas também que vais ter sobre os teus ombros, sejas tu um UX, um UI ou UX/UI Designer, uma grande responsabilidade. As tuas decisões, boas ou más, terão um grande impacto nos produtos e serviços digitais que criamos e que todos os dias são utilizados por milhares (às vezes milhões) de pessoas.
Já pensaste nos problemas que podemos causar a uma pessoa se ela confundir, na sua aplicação do banco, o botão de pagar com o botão de transferir dinheiro? Ou se por causa da escolha do tamanho dos textos num website excluirmos boa parte da população mais idosa com alguns problemas de visão? Ou ainda, se não percebermos bem as pessoas para quem estamos a desenhar um produto digital e utilizarmos uma linguagem que elas não percebem? A responsabilidade que temos às costas é bastante grande, mas é também isso que torna o UX/UI tão fantástico. A oportunidade de conseguir, através do nosso trabalho, simplificar realmente o dia a dia das pessoas, nas coisas mais pequenas mas também nas mais relevantes.
Lembra-te que serás tu nos projetos o “advogado do utilizador”. És tu que deves garantir que o utilizador “está sempre à mesa” da equipa. Que perguntarás “O que é que o utilizador achará disto?”. Que terás que garantir que os temas usabilidade e acessibilidade não são só palavras bonitas, mas sim preocupações reais de toda a equipa. Mesmo que tenhas que dizer (muitas vezes) à equipa e aos clientes “nós não somos os utilizadores”, acredita que, no final, todas as pessoas que não conheces pessoalmente e que simplesmente chamamos de “utilizadores” te vão “agradecer” (mesmo que não te conheçam).
Conforto no desconforto
Ainda agora aqui chegaste e é bom que saibas que os caminhos que se abrem à tua frente são infinitos. Não olhes para o UX e UI como um ponto de chegada. O mundo está a mudar (isto tu sabes bem) e com ele a tecnologia e o papel do design e dos designers. Todos os dias vemos aparecer novos negócios, novos produtos e serviços digitais, novas startups, novas formas de facilitar o dia a dia das pessoas através da tecnologia e não só.
Novos campos onde o nosso papel, enquanto designers de experiências feitas por pessoas e para pessoas, pode ser muito valioso. Seja através das potencialidades da inteligência artificial, dos modelos de interface, onde a voz é o principal instrumento de interação, das funcionalidades hiper-personalizadas a cada indivíduo ou de uma série de coisas que nem conseguimos imaginar, o teu processo de evolução e aprendizagem nunca terminará.
Um desconforto permanente de ter de estar sempre a aprender, a descobrir o que o futuro nos reserva. Como através dos instrumentos que temos à disposição podemos concretizar o essencial da nossa missão enquanto UX/UI Designers (hoje chamamo-nos assim, amanhã muito provavelmente será outra coisa): pensar, desenhar e desenvolver experiências que melhorem o dia a dia de todas as pessoas.
Fotografia © Faisal Amir (Unsplash)