Os conceitos que se tornam buzzwords em qualquer indústria, como é o caso do “design thinking” no design, trazem à partida um sem fim de coisas fantásticas, mas ao mesmo tempo alguns desafios. É fácil perceber que nos últimos anos, na indústria do design, o termo “design thinking”, tornou-se uma expressão com bastante visibilidade, reconhecimento, amores e ódios.
Esta visibilidade tem prós e contras. Todos os prós de uma buzzword, são quase sempre relacionados com a visibilidade que isso traz a determinados conceitos. Visibilidade, quer dizer reconhecimento e reconhecimento, um léxico de conceitos que se vão tornando numa base de conversa reconhecível por muitas pessoas. E isto quando falamos de design thinking é muito bom. Mas, por outro lado, esta visibilidade e popularização do conceito, quer dizer igualmente que o termo será “explorado” por um leque muito alargado de intervenientes e isso pode desvirtuar o seu sentido original e até o seu propósito.
Não é coisa nova
Uma das coisas mais importantes a perceber sobre o design thinking é que não é uma coisa “nova” na indústria. Sobre esta definição existe bastante bibliografia, alguma com bastantes décadas. O facto de se ter tornado agora bastante popular na indústria do design, mas também nos negócios, não pode querer dizer que se perca a leitura da sua consolidação histórica e conceptual que vem bem mais detrás.
As modas têm estes perigos. Tornarem-se num rolo compressor da história fazendo esquecer tudo aquilo que é evolução. George Orwell tem uma frase que ilustra muito bem a importância da memória numa série de dimensões da vida: “Quem controla o passado, controla o futuro. Quem controla o presente, controla o passado.”. Por outras palavras, não perceber as migalhas de evolução de cada tema, far-nos-á parecer como ratinhos às voltas numa roda, convencidos que encontrámos a novidade quando ela já cá anda algum tempo.
Não é um processo
A par da linha de pensamento histórica, é igualmente relevante perceber que acima de tudo o design thinking, não é um processo, mas sim, um mindset. Os muitos problemas que as pessoas e os negócios encontram no quotidiano, podem ser resolvidos segundo diferentes perspetivas. O design thinking é uma das muitas maneiras de resolver esses problemas. Um mindset e perspetiva de olhar para cada desafio e partir à descoberta de possíveis soluções tendo por base todas as ferramentas e métodos de design.
Qualquer pesquisa pelo Google Images, facilmente ilustrará o design thinking como um processo de várias etapas sequenciais. Seja com hexágonos, loops infinitos, quadrados ou qualquer outra forma geométrica, muitas são as ilustrações para as 3, 4, 5, 6 ou qualquer outro número de etapas para o dito “processo” de design thinking. Embora facilite a sua compreensão, todos estes esquemas são no final do dia, uma mera ilustração para um mindset próprio. O design thinking não um esquema em si, mas sim, uma maneira própria do design de olhar para qualquer desafio do dia a dia.
Não é consensual
Uma coisa muito curiosa sobre design thinking, foi que a popularização do termo, despertou muitos anti-corpos, precisamente na comunidade de designers. Por alguma razão, a popularização do “pensamento de design”, fez a comunidade atacar, muitas vezes de forma bastante vigorosa o conceito.
É perfeitamente legítimo, sejamos absolutamente claros. A última coisa que qualquer comunidade precisa é de unanimidade inquestionável ou dogmas. A crítica é um extraordinário motor de evolução do pensamento. Contudo, convém que seja uma crítica estruturada, por que se não, é mero azedume e com isso ninguém ganha, porque não se discute o sentido mais profundo dos conceitos e dos problemas.
Pessoalmente acredito, que os anti-corpos que se foram gerando, estão no fundo alicerçados em alguns mal-entendidos sobre o conceito de design thinking. Porque se não vejamos. A indústria do design debate-se à décadas com afirmação do valor que pode trazer aos negócios. Todos nós, em algum momento da nossa vida, já tivemos que explicar a um cliente o valor daquilo que fazemos. Por tanto, que mal pode fazer, que este “design thinking” e a generalidade das pessoas nas organizações tenha alguma ideia, por mais superficial que possa ser, daquilo que fazemos e do valor que podemos trazer aos negócios através do nosso trabalho?
Magia do design thinking
Uma das grandes e principais “magias” do design thinking foi que conseguiu organizar e estruturar num discurso simples e lógico, o “caos criativo” (e bem) que muitas vezes se passa numa equipa de design. Esta organização teve muitos méritos, mas um dos principais e talvez a razão que ajudou a popularizar o termo, foi o facto de tornar mais fácil a qualquer pessoa de negócio, perceber o que é e para que serve o pensamento de design.
Quase como a criação de um léxico comum sobre o pensamento de design, o design thinking, ajudou a explicar aquilo que vai na cabeça dos designers, permitindo democratizar o processo de design e trazer para esta dinâmica, mais e diferentes pessoas de áreas muito díspares. E isto é extraordinário. Costumamos dizer que o design é por definição uma disciplina multidisciplinar. Então, que mal fará, democratizarmos o processo e permitir que mais pessoas, participem no trabalho de construção de soluções? Dentro da especificidade técnica de cada profissional, a solução de design só tem a ganhar quando mais pessoas estiverem à mesa dos projetos a contribuir com o melhor do seu conhecimento, não? Isto (também) é design thinking e não me parece nada que seja uma treta.
Fotografia © Charlesdeluvio (Unsplash)