Embora possamos em UX tentar tipificar ao máximo aquilo que são os processos de trabalho, a realidade é que cada projeto em cada empresa é diferente, porque as pessoas, os stakeholders, são diferentes. O contexto e pessoas envolvidas em cada projeto, transforma por completo as realidades em que trabalhamos. Aliás, o contexto, dos utilizadores de forma geral, mas também dos projetos, é uma das características mais importantes.
É importante perceber quais são as regras do jogo. O UX não convive com um contexto abstracto. É na realidade concreta de cada empresa que o UX pode ter um impacto valioso. Por esta razão é fundamental perceber as estruturas hierárquicas e sociais dentro de cada empresa, para se compreender na perfeição qual deve ser o papel de cada stakeholder em cada projeto.
Este artigo é uma tradução e adaptação do artigo original Stakeholder Maps – Keep the Important People Happy integrado na parceria de Educational Partner entre a Interaction Design Foundation e o DXD.
Todos os projetos em todos os negócios têm os seus stakeholders. Estas pessoas não trabalham necessariamente no projeto, mas têm um objetivo a cumprir com o resultado do projeto. Os stakeholders podem pertencer à empresa, como o CEO ou o diretor de marketing, ou podem ser externos, como os clientes ou os acionistas.
A análise de stakeholders permite à equipa do projeto seguir os interesses dos stakeholders e definir as prioridades no que toca à gestão dos stakeholders. Nalgumas organizações, os stakeholders internos vão ter uma influência desproporcional sobre o processo de design graças a estruturas de gestão hierárquicas. Pode ser muito útil assegurar que os objetivos políticos e os objetivos de negócio destes stakeholders são satisfeitos, enquanto se entrega a melhor experiência de utilizador possível através do design.
Índice
- Conduzir análises de stakeholders
- Fazer mapas de stakeholders
- Em resumo
- Referências adicionais
- Sugestões de formação
- Dossiê temático

Conduzir análises de stakeholders
Stakeholder é qualquer pessoa ou organização que tem a capacidade de ser impactada de forma positiva ou negativa pelo projeto desenvolvido e os seus resultados, bem como qualquer pessoa ou organização com capacidade para impactar o projeto. Stakeholders são, por exemplo:
- Pessoas do negócio
- Agências governamentais
- Clientes
- Fornecedores
- Acionistas
- Autoridades reguladoras
De forma geral, todos estes tipos de stakeholders podem estar inseridos em 3 categorias distintas:
- Stakeholders primários: são afetados positiva ou negativamente pelo resultado do projeto
- Stakeholders secundários: são afetados indiretamente pelo resultado ou progresso do projeto
- Stakeholders-chave: não pertencem a nenhuma das outras categorias, mas continuam a ter uma capacidade significativa para influenciar o projeto ou o negócio.
Podes fazer brainstorming numa equipa para definir o cenário dos stakeholders num projeto. Também podes usar o diagrama hierárquico da organização ou outra fonte de informação relevante para clarificar este cenário, em particular no contexto onde estejas a trabalhar em cada momento. É muito importante, para lá das tipificações possíveis, compreender o nosso contexto em particular.
O propósito deste exercício é criar uma lista de stakeholders com o objetivo de promover a cooperação entre eles e a equipa do projeto. Assim, garante-se que o projeto é concluído com sucesso e que cumpre os objetivos dos stakeholders.

Fazer mapas de stakeholders
Existem diferentes formas de mapear os stakeholders e a sua influência no projeto. Podem derivar de abordagens da gestão de projeto ou até mesmo de comportamentos históricos da organização.
Em todo o caso, talvez a ferramenta mais simples seja a que propuseram Mitchell, Agle, e outros, em 1997, e que analisa o poder e a influência de cada stakeholder.
O objetivo deste exercício é decidir que stakeholders exigem mais esforços do gestor de projeto em qualquer momento.
A forma de conduzir este mapa é pegar numa folha de papel e dividi-la em 4 quadrantes iguais (dobra na vertical e na horizontal) com um eixo y para o poder do stakeholder e um eixo x para o seu nível de interesse. Em seguida, podes categorizar cada quadrante com base nas seguintes características:
- Stakeholders apáticos: nível de interesse e de poder baixos. São aqueles que devem ser vigiados pelo gestor de projeto, no caso de o seu interesse ou poder mudarem, mas que não requerem atenção naquele momento.
- Stakeholders silenciosos: nível de interesse baixo e de poder elevado. São aqueles que devem estar satisfeitos com o resultado do projeto, mas que não requerem atenção regular.
- Stakeholders defensivos: nível de interesse elevado e de poder baixo. São aqueles que apoiam o projeto e os seus objetivos e a quem devem ser dadas atualizações regulares, para mantê-los incluídos e motivados.
- Stakeholders promotores: nível de interesse e de poder elevados. É o grupo de stakeholders em quem o gestor de projeto deve focar a sua atenção e gerir de perto. Estes são os stakeholders com a capacidade mais ampla para promover o projeto junto do negócio, mas também têm a mais ampla capacidade para fazer com que o projeto descarrile se não forem geridos com atenção.
Este modelo é extremamente simples de implementar, apesar de exigir que o gestor de projeto esteja familiarizado com os stakeholders e os seus interesses e poder sobre o projeto. Se o gestor de projeto não tiver este conhecimento, vai ter de recolhê-lo antes de conduzir esta análise. É muito importante que este exercício seja realizado com base em informação tangível.
O gestor de projeto deve rever regularmente o mapa de stakeholders e confirmar se mudaram as suas posições, por exemplo, se ganharam ou perderam poder ou interesse no projeto. Depois, podem redirecionar a sua atenção conforme necessário.

Em resumo
O mapa de stakeholders é uma ferramenta de gestão de projeto que permite aos gestores perceber quem são os seus stakeholders e até que ponto precisam de informação e gestão durante o projeto. A ferramenta reconhece que a relação entre stakeholders e o projeto não é estática e exige revisões regulares para garantir que o gestor de projeto está a dedicar as suas energias às pessoas certas no momento certo. A participação de cada stakeholder é diferente e esta ferramenta ajuda-nos a reconhecer e trabalhar com esse fator.
Referências adicionais
Mitchell, R. K., B. R. Agle, and D.J. Wood. (1997). “Toward a Theory of Stakeholder Identification and Salience: Defining the Principle of Who and What really Counts.” in: Academy of Management Review 22(4): 853 – 888.
Publicação electrónica Formas alternativas de mapear os stakeholders dos autores James Mayers e Sonja Vermeulen.
Sugestões de formação
A Interaction Design Foundation pode te ajudar aprofundar este tópico. Aproveita a parceria entre a IxDF e o DXD para conseguires aceder a formações especializadas, com alguns dos melhores e mais reconhecidos profissionais da área. Para explorares muito mais a relação do UX com os negócios e as ferramentas que precisas para tirar partido dessa simbiose perfeita, aqui ficam algumas sugestões de formações sobre o tema na plataforma da IxDF.
- Design Thinking: The Ultimate Guide
- Human-Computer Interaction: The Foundations of UX Design
- Journey Mapping
- User Research – Methods and Best Practices
Dossiê temático
Este artigo integra o dossiê “UX é bom para o negócio. Porquê?” uma iniciativa do DXD em conjunto com a Interaction Design Foundation. O dossiê explora essencialmente a relação e o impacto positivo do UX no negócio das empresas. Uma vez por mês o DXD publicará um artigo integrado neste dossiê, utilizando os conteúdos da IxDF e ajudando a plataforma na sua tradução para português. Consulta todos os artigos do dossiê e descobre como o UX pode ajudar os negócios e a economia.
Tradução e revisão © Filipa Moreno
Fotografia © Pascal Swier (Unsplash)