Desde sempre que o homem procurou, através do design mas não só, criar e desenvolver em seu redor um ambiente polvilhado de objetos capazes de lhe facilitar as suas tarefas do dia-a-dia. Um ambiente, fosse em que espaço fosse, munido de objetos com finalidades estritamente funcionais. A dada altura na história do design, essa procura constante transformou-se inclusive num pensamento muito simples, mas que até hoje é linha de orientação para muitos designers, “a forma segue a função” (Louis Sullivan).
Embora por muitos momentos na história da humanidade, e por consequência na história do design, a função tenha sido criada segundo a forma, está amplamente comprovado que é a função que faz evoluir a forma. Bruno Munari, uma das grandes referências da história do design, referia inclusive algumas vezes que “a preguiça é o motor do progresso”.
Das lanças pré-históricas à cadeira nº14
Mas, pensemos nas origens da civilização. No período pré-histórico o homem, ainda que já com uma consciência espiritual, vivia cada dia com um único objetivo, sobreviver. Esta subsistência levou-o a desenvolver objetos simples que o ajudassem a concretizar tarefas corriqueiras do quotidiano, ainda nómada. A criação de lanças, de arpões e de bastões tinha como única e exclusiva função ajudar o homem pré-histórico nas suas caçadas.
Definir se esta ação do homem pré-histórico é ou não design, poderá desencadear um debate quase interminável. Por um lado poderemos argumentar que o homem pré-histórico, encontrou uma necessidade do dia-a-dia que tentou resolver construído melhores instrumentos. Por outro lado, acreditando no design como uma disciplina de projeto consciente, será difícil assumir a criação pré-histórica, como algum tipo de processo planeado e não um somatório linear de algumas conclusões simples.
O principal desafio do debate em torno deste tema, está em comparar a criação utilitária da lança pré-histórica com, por exemplo, a cadeira nº14 de Michael Thonet. Visões mais simplistas, poderão dizer que a “única” diferença entre ambas as criações, está “só” na consciência processual do ato, ou seja, na consciência que os seus criadores tinham desse processo. Enquanto que o homem primitivo fazia-lo espontaneamente e movido apenas pela sua necessidade básica, Thonet criou a sua cadeira mais célebre com plena consciência de todo o processo, constrangimentos e também com o intuito da sua reprodução já pela indústria em grandes escalas.
Uma definição de “design”
Perceber ou conseguir definir bem as fronteiras do design, seja em que disciplina for, é um exercício complexo, mas completamente identitário para qualquer designer. Mesmo estando muito longe de poder ser consensual, seja qual for a definição a adotar, é sempre muito importante assumir o risco desse exercício.
Acredito no design não só como uma disciplina de soluções, mas fundamentalmente de processos conscientes. Processos feitos por e para pessoas, que conhecedores das variáveis de um determinado contexto, transformam problemas do quotidiano em soluções iterativas construídas de forma colaborativa, feitas a pensar no todo mas também na individualidade de cada pessoa.
Fotografia © Paweł Czerwiński (Unsplash)