Os design systems são uma ferramenta ao serviço principalmente do negócio. Esta pode ser uma visão polémica, especialmente quando olhamos pela perspectiva do design para o tema. Em muitas equipas e segundos dados do Mapa dos Design Systems em Portugal 2022 as equipas de design, são muitas vezes as principais evangelizadoras e promotoras dos design systems nas empresas. Isto é incrível. Se é para começar, esta pode ser uma maneira muito interessante. Contudo, a realidade de outras tantas empresas é que os design systems se tornam muitas vezes, mais uma “cena” do design. E isto não joga de todo a favor do tópico.
Existem, pelo menos na minha opinião, muito poucas verdades absolutas sobre design systems. Este facto está intimamente relacionado com o impacto que os design systems podem ter na empresa e no seu negócio. Para se gerar um real impacto, é importante que o design system seja construído e mantido tendo por base o contexto particular de cada empresa. O seu negócio, os seus modelos de governação, as suas pessoas, a sua visão de curto, médio e longo prazo e por aí em diante. Soluções de design systems “marca branca”, por si só e sem nenhum trabalho de contextualização, são meio caminho andando para um design system completamente inútil naquela empresa em específico.
Por outro lado, mesmo existindo muito poucas verdades absolutas sobre os design systems, uma coisa é certa. Os design systems têm que ser uma ferramenta transversal a toda a organização, para que consigamos realmente gerar um impacto positivo. Não dá para ser só uma “cena” do design. Sem esta adoção transversalizada destas lógicas modulares e escaláveis, corremos o risco do nosso design system não ser mais que uma biblioteca de Figma. Não que uma biblioteca de Figma seja uma coisa má, muito pelo contrário, mas para o potencial real dos design systems, está essencialmente quando estes se tornam um terreno de trabalho comum.
Impacto no negócio
Passada a barreira dos design systems como uma “cena” de design, ficamos com todo o terreno do negócio por explorar. Os design systems, podem efetivamente ter um impacto muito relevante no negócio das empresas. Seja pelo aumento da rapidez no time-to-market, pela facilidade acrescida que dá à empresa para testar novas soluções de produtos e serviços no mercado (mesmo que depois se resolva não escalar a solução), ou o investimento que poupa e que podem ser canalizado para outras vertentes de trabalho. Tudo isto são argumentos muito válidos que justificam o poder dos design systems também para os negócios.
É uma camada de trabalho do design system, que vai muito para lá da camada utilitária de desenhar ou desenvolver interfaces. Tem principalmente que ver com a vertente estratégica dos sistemas que pode e deve ser tida em conta desde o dia 0 do projeto do design system. E também nesta camada estratégica todos têm um lugar à mesa. Quanto mais plural for a discussão de qual o impacto que podem os design systems ter no negócio, mais ricas e sustentadas serão as soluções e os caminhos a explorar.
Impacto social
Para além do impacto no negócio dos design systems, existe também um impacto colateral que não é de todo de menor valor. Se os design systems, são uma excelente ferramenta para desenhar e desenvolver de forma modular interfaces de produtos e serviços digitais, eles são também um veículo incrível para escalar boas práticas. Boas práticas de diferentes dimensões da experiência, onde se inclui naturalmente boas práticas de acessibilidade. Na verdade os design systems podem ser também um acelerador fenomenal da acessibilidade.
Não é difícil compreender, com esta linha de pensamento que os design systems, podem também ter um impacto social muito relevante. Se a acessibilidade digital, permite que o maior número de pessoas, independentemente das suas características e contextos, consiga utilizar de forma autónoma produtos e serviços digitais essenciais ao dia a dia. Se estes sistemas ajudam a tornar esses produtos e serviços digitais mais acessíveis, é fácil perceber que os design systems são também um contributo importante para inclusão.
Inclusão num sentido amplo, capaz de proporcionar uma real autonomia a cada pessoa, no uso fruto dos produtos e serviços digitais que lhe permite resolver diferentes temas do seu quotidiano. Mais produtos e serviços digitais acessíveis, quer dizer maior autonomia real para quem precisa deles.
A acessibilidade é a coisa certa a fazer. Não só porque o digital deixou de ser há muito uma coisa “nova”, mas porque o digital pode também ajudar a incluir ao invés de excluir. Numa era extraordinária de tecnologia, que sentido faz, que ao invés de estarmos a proporcionar mais oportunidades a mais pessoas, sem excepção, estejamos a excluir pessoas de algo que é absolutamente essencial para as suas vidas? Não faz, seguramente, nenhum sentido e os design systems podem ajudar e muito a que isto aconteça.
Fotografia © Joey Genovese (Unsplash)