Quando se fala de tecnologia, seja em que contexto for, o tema da privacidade dos dados pessoais é recorrentemente um daqueles tópicos que salta facilmente para cima da mesa. É sem sombra de dúvidas um tema extremamente relevante nos dias de hoje. É de uma maneira geral uma preocupação transversal de quem, todos os dias se serve da tecnologia para trabalhar, realizar pagamentos, aceder algum serviço do Estado, ver um filme online, etc.
Por outro lado, nesta discussão sobre privacidade, seria também importante salientar que ela é também um direito. Qualquer pessoa, deveria ter o direito de escolher se quer, ou não, que a sua informação e dados pessoais, estejam ao serviço de uma qualquer empresa tecnológica ou seja até publicada e partilhada online. Este deveria ser um direito basilar da sociedade global de informação.
Tudo é informação pessoal
Este direito inquestionável, tem contudo uma outra perspectiva que é importante não esquecer. É inegável a evolução dos serviços digitais que as pessoas têm à sua disposição hoje. Quer seja pelas facilidades que trazem à vida do dia a dia ou tudo aquilo que possibilitam, todos estes serviços digitais, são hoje um instrumento fundamental do nosso quotidiano. Contudo, muitos destes serviços só são tão relevantes porque também ‘nos conhecem’ de forma muito particular. Ou seja, é através da recolha de um conjunto infindável de informação sobre nós, que se conseguem customizar de forma tão específica às necessidades de cada pessoa.
Na prática tudo aquilo que fazemos online pode ser uma informação pessoal. Por exemplo, quando fazemos uma pesquisa no Google, quando fazemos um registo num website, quando vemos um filme na Netflix, quando pagamos algo com Revolut, etc. Qualquer ação, gera uma informação sobre nós que quando relacionada com outras informações, cria um perfil mais real e aprimorado da pessoa que somos.
O reverso (preço) da medalha
Olhando por esta perspectiva para o tema da privacidade o cenário pode não parece bonito. Dificilmente alguma pessoa, aceitará de bom grado, que uma qualquer empresa consiga traçar um perfil mais ou menos apurado da pessoa que é, eventualmente descobrindo hábitos sobre nós que nem nós próprios conhecemos. Mas é importante também dizer que existe um benefício nisto.
Sem esta recolha de informação e customização, seria quase impossível termos acesso aos serviços digitais que conhecemos e valorizamos. Sem esta recolha de informação, seria impossível termos resultados no Google otimizados para as nossas necessidades. Seria igualmente impossível que a Netflix, conseguisse sugerir conteúdos que muito provavelmente teremos interesse em ver. Sem esta recolha de informação, para o bem e para o mal, o Facebook não nos conseguiria sugerir a ligação com aquele colega da escola primária que não vemos há alguns anos.
Ponderar entre privacidade e serviços digitais
A questão de fundo então nesta discussão, pelo menos para a generalidade das pessoas, não será se a nossa informação pessoal é ou não privada. A principal pergunta a responder, é sim, o que queremos mesmo que seja privado, o que não nos importamos que seja público e armazenado e qual o preço que estamos dispostos a pagar, para conseguirmos ter acesso aos serviços digitais que facilitam o nosso dia a dia.
É uma ponderação difícil de fazer, mas essencial no curto, médio e longo prazo. Essencial, para conseguirmos equilibrar aquilo que é a privacidade pessoal de cada pessoa, mas também a qualidade dos serviços digitais que são já essenciais a muitas das atividades do quotidiano.
Fotografia © Tobias Tullius (Unsplash)