Não se pode dizer que o tema da acessibilidade digital seja algo recorrente na esfera da criatividade. Não que as marcas ou os criativos não o considerem um tema importante. Mas, simplesmente porque está, de facto, rodeado de mitos que o tornam, só por si, um tema complexo de ser trabalhado no dia-a-dia.
Por entre os mitos que se criaram em torno desta temática, um dos mais recorrentes é o de que o número de utilizadores. Existe a ideia que este número de utilizadores possa não ser relevante para a marca. O tema da acessibilidade reduz-se muitas vezes a uma questão de aritmética, mas quando analisada desta forma só pode ser uma premissa enganadora.
Os números da acessibilidade
Se não vejamos, segundo os censos de 2001, em Portugal, o número de pessoas com algum tipo de deficiência física ou psíquica era de 636.059. Cerca de 6% da população. Neste caso estamos a falar apenas de deficiências extremas. Mas, dentro do trabalho da acessibilidade poderemos incluir ainda muitos outros tipos de incapacidades, por ventura menos evidentes, mas igualmente relevantes. Por exemplo o daltonismo, que inibe de diferentes formas a perceção da cor. Esta limitação que afeta um dos pilares da comunicação contemporânea, a cor, afeta cerca de 10% da população masculina em todo o mundo.
Aquilo que é um dos mitos mais recorrentes na acessibilidade é afinal um engano, porque se começarmos a somar todo o tipo de incapacidades que o utilizador dos nossos websites pode ter, numa série de dimensões sensoriais, os números estão muitos longe de não ser relevantes.
O papel dos criativos e das marcas
É precisamente no momento em que o debate em torno da acessibilidade se torna simplesmente numa guerra de números que as marcas e os criativos, podem fazer toda a diferença.
Nos dias de hoje é inegável que as marcas – e por consequência os criativos – através do seu trabalho, são não só agentes económicos fundamentais mas também atores de grande relevância na nossa “cultura digital”. Contudo, analisando em detalhe muitos dos websites que povoam os nossos “bookmarks” não é difícil concluir que a maior parte deles não estão preparados para ser utilizados por pessoas com algum tipo de deficiência.
Por incrível que pareça, o mais curioso deste contexto é que a maior parte destes problemas se poderiam resolve com pequenas coisas nos projetos. Pequenas coisas, seja na componente de design ou de código. Por exemplo, no design quantas vezes testamos os contrastes das nossas cores em diferentes tipos ecrãs garantindo uma leitura aceitável em todos eles? Ou então no código, quantas vezes nos perguntamos o que aconteceria se um invisual tivesse que visitar o nosso website e utilizasse um leitor de ecrã para navegar? As respostas a estas questões estão muito longe de ser complexas ou necessitar de grandes investimentos, mas são estas pequenas coisas e testes que melhoram em muito os nossos websites e os tornam cada vez mais acessíveis e inclusivos.
O seu website é acessível?
O consórcio W3C, responsável pela implementação de boas-práticas na internet, desenvolveu um conjunto de orientações de acessibilidade, as WCAG. Estas orientações definem que os websites podem ser classificados segundo três níveis de conformidade: A, AA ou AAA. Através de ferramentas online gratuitas como o Access Monitor da FCT é possível a qualquer utilizador perceber em que ponto desta classificação se encontram os websites que visita no seu quotidiano.
Curioso? Porque não experimenta? Qual é a classificação dos websites que costuma visitar no seu dia-a-dia? E da sua marca?
Fotografia © Alexander Milo (Unsplash)