Os problemas que os designers podem resolver

Quem acompanha de perto a evolução da indústria ligada à tecnologia e transformação digital e os reflexos que isso tem tido na vida quotidiana das pessoas, com alguma facilidade reconhecerá que a disciplina do design, para o bem e para o mal, tem tido um papel preponderante em toda esta dinâmica.

De várias maneiras diferentes o design e por consequência os designers, ocupam hoje um espaço na generalidade das empresas de grande visibilidade e relevância para os negócios. Apesar disso, não raras vezes noutro tanto punhado de empresas, assistimos às discussões, quase metafísicas de qual pode ser o papel do design nas organizações ou nos casos extremos que tipos de problemas podem ou não ser resolvidos através da intervenção de uma disciplina de projeto como o design.

Ainda conseguimos definir o design?

A verdade é que o design enquanto disciplina de projeto, tem invariavelmente sofrido profundas transformações. Seja pela aplicação em áreas que outrora não se imaginavam possíveis ou pela transformação das suas ferramentas e instrumentos, o design é hoje uma disciplina muito diferente daquela que era na época da revolução industrial e ainda bem.

Contudo, o desafio de conseguir definir a disciplina em cada momento histórico, não é só um exercício de reflexão abstrato, mas também uma necessidade essencial para a sua própria valorização e promoção seja em que contextos e organizações for.

Perceber ou conseguir definir bem as fronteiras do design, seja em que vertente for, é um exercício complexo, mas completamente identitário para qualquer designer. Mesmo estando muito longe de poder ser consensual, seja qual for a definição a adotar, é sempre muito importante assumir o risco desse exercício.

Nos dias de hoje, acredito no design não só como uma disciplina de soluções, mas fundamentalmente de processos conscientes. Processos feitos por e para pessoas que conhecedores das variáveis de um determinado contexto, constroem a partir de problemas do quotidiano soluções iterativas.

Diferentes tipos de problemas

Podendo assumir o design essencialmente como um processo consciente para a resolução de diferentes tipos de problemas do quotidiano das pessoas, torna-se também fundamental perceber que tipo de problemas são esses. Assumir simplesmente o conceito de “problemas” é em si bastante abstrato pois torna difícil concretizar áreas de trabalho concretas o que por sua vez torna impossível definir o perfil das pessoas, os designers, mais indicados para a resolução de cada tipo de problemática.

O autor americano Richard Buchanan nos seus “The four orders of design” ajuda em grande medida a tangibilizar o tipo de problemas a que o design e os designers poderão responder, ligando isso também com o tipo de vertentes a que dentro do design poderão ser úteis em cada caso.

© Richard Buchanan
© Richard Buchanan

Nada está escrito na pedra

Por muito desconfortável que isso possa ser e por mais indecisões que crie é muito difícil dizer qual será o futuro do design. Existem tendências que se podem identificar, padrões que vão ganhando força, tecnologias que se podem imaginar, mas a disciplina do design no futuro, será forçosamente bastante diferente de quase tudo aquilo que conhecemos hoje.

Mas afinal de contas, o que é o design se não um processo iterativo constante de descoberta dos “novos” problemas do quotidiano e de criação de novas soluções, feitas por e para pessoas?

Fotografia © Patrick McManaman (Unsplash)