Perguntas sobre o futuro do UX, do UI e dos designers

O futuro do design e dos designers não se faz de respostas, faz-se de perguntas. Qualquer texto que reflita, ou pelo menos tente refletir, sobre o futuro e que pelo caminho tente encontrar respostas com certeza, sobre aquilo que será o futuro do design, é um texto condenado ao fracasso.

Não que a reflexão sobre o que nos espera não seja importante. Ela é absolutamente essencial. Mas, porque a história tem nos comprovado vezes e vezes sem conta, que o futuro é algo incerto e muito difícil de imaginar. Um misto de muitas coisas das quais o design em geral e o UX/UI em particular, não se pode aliar. Ainda assim é importante tentar. Com todo o grau de erro que isso pode acarretar, mas tentar revela mais que não seja que uma preocupação sincera de tentar “levantar a cabeça” da azáfama do dia a dia e procurar perceber o que aí vem.

Algumas perguntas para a reflexão

Mas, para tentar imaginar aquilo que poderá ser o futuro do UX, do UI e por consequência dos designers que o praticam, pode ser interessante tentar formular algumas questões que mais que não são do que um ponto de partida. Podemos claro, olhar para o futuro da profissão de forma muito abrangente e tentar imaginar o que serão as experiências, digitais ou não, no futuro e a partir disso tentar perceber que tipo de profissionais serão fundamentais para as construir. Embora seja impossível desligar uma coisa da outra, a perspetiva neste caso que interessa explorar, pelo menos para já, é tentar perceber o que espera os designers que hoje são chamados de UX/UI Designers e de que forma é que esta sua evolução, mudará a própria comunidade.

Sobre a evolução histórica

  • Aquilo a que chamamos hoje de disciplinas de UX e UI mudou bastante nos últimos anos. Quando muitos de nós começaram a trabalhar em digital, tínhamos nomes como web designers e ainda se acreditava que o Macromedia Flash e o AS2 ia salvar o mundo. De lá para cá muita coisa mudou. Olhando para trás será que conseguimos identificar as principais mudanças nos últimos 20 anos?

Sobre a relevância da disciplina

  • Será que já passámos da fase das nossas vidas em que temos que começar uma conversa a explicar o que é o design e como é que ele se difere da arte?
  • Todos concordaremos que se o design não for capaz de construir produtos ou serviços concretos dificilmente será relevante. Mas, por outro lado se não existir um pensamento estruturado sobre o processo em si da mesma forma será impossível construir algum tipo de produto ou serviço. O futuro do design far-se-á mais pela preocupação com o processo ou pela necessidade de entregar resultados rápidos? De que forma é que um processo maturado pode ajudar a gerar resultados e vice-versa?

Sobre os perfis de profissionais

  • Quando “passeamos” por sítios como o Linkedin é fácil constatar uma variedade muito grande de designações atribuídas a designers. São UX/UI Designers, UX Designers, UI Designers, Visual Designers, UX Researchers, Product Designers, Service Designers, UX Writers, etc. Será que esta pluralidade de designações reflete efetivamente uma cada vez maior especialização? Ou estamos a encontrar nomes diferentes para as mesmas coisas?
  • Por outro lado, será que esta pluralidade de designações e perfis tem ajudado a disciplina do design a afirmar-se na indústria ou prejudica a compreensão do que realmente fazemos ou podemos fazer?

Sobre a aprendizagem e formação

  • É comum dizer-se no design em geral mas também no UX e UI em particular que a aprendizagem e formação constantes é fundamental. Até aqui tudo bem. Mas, como é que cada designer pode pensar e gerir este processo de aprendizagem e formação se os conhecimentos que precisa (e vai precisar) para desempenhar as suas funções estão sempre a mudar? Onde é que se pode realmente aprender e procurar formação?
  • Será que as comunidades no design em áreas técnicas específicas podem ter um papel importante neste processo de aprendizagem e formação? É um lugar comum, mas será que conhecer as experiências de outros designers é efetivamente um espaço de aprendizagem importante? Como é que poderemos potenciar ainda mais estas trocas de experiências?

Sobre o mercado de trabalho

  • Aqui e ali surge muitas vezes a ideia de que existe falta de pessoas para trabalhar nas áreas de Ux e UI. Será que existe mesmo falta de pessoas? Até que ponto essa “falta de pessoas” não pode estar relacionada com o tipo de processos de trabalho que temos hoje em dia?
  • Quem trabalha em design algum tempo, trabalhar em regime de recibos verdes ou em contextos precários não será de todo desconhecido. No que toca ao mercado de UX e UI poderemos dizer que é um mercado precário ou felizmente já passámos essa fase? E no futuro, como será?
  • Hoje em dia temos uma realidade em que muitos designers não tiveram nenhum tipo de formação “tradicional” nos temas que historicamente sempre fizeram parte do currículo de qualquer curso de design. Que implicações é que isto pode ter exatamente para a “classe” do design?
  • Para alguém que esteja hoje a entrar nas áreas de UX e UI que tipo de oportunidades de trabalho existem disponíveis? Que tipo de empresas contratam que tipo de perfis de profissionais?

Sobre a responsabilidade social do design

  • Nos últimos tempos têm-se acentuado o aparecimento de algumas vozes — aqui, ali e acolá — bastante críticas com o rumo do design, a sua relação com os negócios e a forma como isso tem prejudicado a missão que os designers deveriam desempenhar nas organizações e na sociedade. Será que chegámos a um ponto sem retorno? Ganhar dinheiro será suficiente ou vamos precisar mesmo de conseguir atingir algo mais?
  • Não raras vezes ouvimos dizer em diferentes espaços de discussão, que o design é uma disciplina “especial” e que pode ter um impacto real na vida das pessoas. Na realidade do dia a dia da profissão quanto disto é efetivamente realidade e quanto é simplesmente conversa? O design pode realmente ter um impacto tão positivo na vida das pessoas?

Sobre o design e a acessibilidade digital

  • Uma das promessas do design no digital sempre foi a democratização do acesso a qualquer pessoa da informação e serviços. Mas quando olhamos por exemplo para o panorama da acessibilidade digital dos produtos digitais, o cenário não é bonito. A acessibilidade digital é mesmo uma preocupação dos designers? Será que não estamos assobiar para o lado neste tema e a passar as culpas para os calendários apertados ou os orçamentos pequenos?

Mais perguntas do que respostas

Não tenho bem certeza se consigo encontrar resposta para a maior parte destas perguntas. Aliás, arriscar-me-ia a dizer que tenho muito mais dúvidas que algum tipo de certezas. Mas isso não é necessariamente mau. Pelo contrário. Não ter muitas certezas ajuda a manter a mente aberta. Ouvir diferentes perspetivas. Evoluir opiniões que hoje são umas e amanhã outras. Com a certeza que é na reflexão, estruturada e atenta que pode existir alguma maturidade de pensamento e confiança nas decisões, que todos os dias sem excepção somos chamados a tomar em tudo aquilo que fazemos.

Fotografia © Ana Municio (Unsplash)