Podemos desafiar o manual de normas gráficas em PDF?

Quem trabalha na área do branding reconhecerá bem a importância de uma ferramenta como o manual de normas gráficas. Aliás, quem já teve que implementar, seja em que suporte for, uma identidade visual, saberá que dificilmente alguma marca pode “sobreviver” sem um instrumento como este. Seja que marca for, com maior ou menor presença no digital, a coerência e eficácia da identidade visual de uma marca, depende em grande medida da sua boa aplicação no dia a dia, pelo sem fim de equipas com essa responsabilidade.

Mas… (existe sempre um “mas”) embora a importância do manual de normas gráficas, ou qualquer outro instrumento com a mesma missão, não esteja em causa, o formato que na generalidade das vezes ele assume é que pode ser altamente questionável nos dias que correm. Embora existam sempre excepções, na esmagadora maioria das vezes, as guidelines de aplicação da identidade visual da marca, estão confinadas a um ou vários ficheiros PDF. O ficheiro PDF é um formato incrível, apesar disso para uma ferramenta de trabalho para o dia a dia como o manual de normas gráficas, este formato pode levantar inúmeros problemas.

Quem nunca precisou de aplicar uma identidade visual, consultar o PDF do manual de normas gráficas e perceber mais tarde que aquela já não era a versão atual? Quem nunca precisou de um recurso que estava documentado no manual, mas não encontrar o ficheiro editável e abrir o ficheiro PDF do manual para aproveitar os recursos (e pelo caminho perceber que não tinha as fontes da identidade instaladas no computador)? Seguramente quase todos nós, teremos uma ou outra história para contar sobre isto.

As boas notícias (porque são só essas que nos interessam) é que atualmente, com uma boa ajuda das aprendizagens e processos dos design systems, a verdade é que nada disto precisa de ser assim. O conjunto de ferramentas que os designers têm à disposição, seja para que tarefa for, vai muito para além das ferramentas da Adobe (e bem mais baratas, muitas vezes).

Novas ferramentas

Transformar o modelo do manual de normas gráficas em PDF, para outras soluções, pode levar em certo momento a questionar as ferramentas com que a equipa de design trabalha atualmente. Grande parte da indústria relacionada com o branding, tem desde há muitos anos as ferramentas da Adobe (que são fantásticas) como base de trabalho imprescindível. Acontece que se queremos desafiar o modelo do manual de normas gráficas em PDF, muito provavelmente teremos que questionar em parte a utilização destas ferramentas.

Pode ser importante procurar novas ferramentas que nos permitam trabalhar num contexto digital mais otimizado, facilitando por exemplo, transformar o PDF numa plataforma online. Mudar para este formato online, sem que isso implique ciclos de desenvolvimento, traz uma série de vantagens bastante evidentes. Para além disso, alterar o formato do PDF para uma plataforma online pode também facilitar a sincronização dessa plataforma com os ficheiros de desenho da identidade visual da marca. Tudo isto está perfeitamente ao alcance das equipas de design já hoje com ferramentas como o Figma (para a componente de desenho vectorial) ou o Zeroheight (para a criação de plataformas online de documentação).

O mundo ideal

Imagina pegares no tradicional manual de normas gráficas em PDF e conseguires fazer com que aquele conteúdo, que é incrivelmente útil para qualquer pessoa de qualquer departamento que tenha que aplicar a identidade visual da marca, esteja disponível de forma mais simples e rápida. Imagina conseguires fazer com que aquele conteúdo possa estar sempre atualizado. Imagina conseguires ligar muito mais a aplicação da identidade visual nos suportes on e offline. Tudo isto é possível hoje, com as ferramentas e processos certos e de form bem mais simples do que possas imaginar.

É verdade que muito provavelmente isto vai obrigar a transformar alguns processos de trabalho e a mudar de ferramentas na equipa, não vale apena esconder. Mas o retorno deste investimento, no curto e médio prazo, poderia ser absolutamente esmagador. Imagina só um mundo ideal onde com o manual de normas gráficas conseguisses fazer tudo isto (e muito mais).

1. Centralização on e offline

Transformar o modelo do manual de normas gráficas em PDF numa plataforma online tem muitas vantagens evidentes. Uma delas, bastante importante no contexto atual, pode ser aproximar tudo aquilo que são os assets on e offline da marca.

Adotar um formato digital de documentação, vai permitir incluir aqui não só os recursos de print que são normais publicar num manual de normas gráficas, mas também disponibilizar melhores recursos para implementar a identidade visual da marca, naquilo que são os suportes de comunicação digitais mais recorrentes (redes sociais, produtos digitais, newsletters, etc.).

2. Pesquisa fácil de conteúdos

Esta não é uma funcionalidade impossível de implementar num ficheiro PDF, mas a plataforma online de documentação da identidade visual da marca, traz também grandes vantagens no que toca à pesquisa. O manual de normas gráficas não é uma leitura de mesa de cabeceira. É uma ferramenta de trabalho que nos pode ajudar, num momento específico, a encontrar a resposta que procuramos.

Logo, é fundamental que a utilização deste manual de normas possa de forma muito rápida responder ás questões de cada momento. Uma boa pesquisa, fácil de implementar em plataformas do género, é meio caminho andado para que consigamos responder a todas as questões em tempo útil. No final do dia, isto quer dizer um maior apoio a quem tem que aplicar a identidade visual num determinado suporte e por consequência uma melhor aplicação da própria identidade visual.

3. Atualização ágil e em tempo real

Se existe coisa que um manual de normas gráficas não deveria ser, era um documento fechado. A implementação de uma identidade visual é um processo dinâmico que evolui com os desafios do dia a dia. Isto quer dizer que é normal, conforme a identidade é aplicada nos vários suportes, que se possa ir descobrindo novas soluções, encontrando problemas para os quais não tínhamos pensado e criando novos recursos para apoiar a aplicação.

Tudo isto faz com que não raras vezes, seja necessário atualizar as guidelines. Fazer isto através de ficheiros PDF é um suplício. A probabilidade de ao final de um tempo existirem várias versões do manual em PDF a circular nas equipas é gigantesca. Transformar o velhinho PDF numa plataforma online, facilita também tudo isto. Facilita principalmente a atualização em tempo útil das guidelines da identidade visual e a sua distribuição acertada por todas as equipas, garantindo que em qualquer altura todas as equipas estão a ver a última versão das guidelines.

4. Comentários e sugestões

Tratando-se de uma plataforma online, que pode ser consultada por todas as equipas com a responsabilidade de aplicar a identidade visual da marca, é fácil antever também as possibilidades colaborativas que isto pode ter. Quando temos muitas equipas diferentes aplicar a mesma identidade visual é normal que se vão identificando eventuais melhorias às guidelines.

Trabalhar com base numa plataforma online, pode por exemplo, facilitar que cada profissional deixe comentários, notas ou sugestões de melhorias associadas a cada uma das peças de informação constantes nas guidelines. Esta é uma das muitas formas de recolha de feedback das pessoas que na prática aplicam as guidelines e uma ajuda valiosa para a sua evolução.

5. Sincronização com ficheiros de desenho

A plataforma online, com base no Zeroheight ou qualquer outra ferramenta similar, pode ser uma grande ajuda. Sem sombra de dúvidas. Mas já todos estamos a antever o trabalho imenso de exportar imagens para os vários recursos da identidade visual visual para serem depois inseridas na dita plataforma. Isto vai gerar um trabalho adicional bastante grande, certo? Errado!

Temos maneiras bem mais simples de fazer isto. Podemos, por exemplo, sincronizar todos os assets vectoriais que temos desenhados por exemplo em Figma. sincronizar isso com a plataforma Zeroheight. É isto mesmo. Podemos importar para a plataforma imagens que tenhamos em ficheiros Figma, sem nunca exportar uma única imagem aqui pelo menos. Sempre que for necessário atualizar alguma destas imagens, basta fazer a alteração no Figma e voltar a sincronizar a plataforma Zeroheight com esse ficheiro, numa operação que demora poucos segundos.

Nada é eterno

Tudo é evolutivo e não existe nada eterno. Ouvimos muitas vezes nos dias que correm a propósito de muitas coisas diferentes. Mais que uma frase que fica bem em qualquer apresentação ou texto (como é o caso deste), este é um mantra difícil de contornar nos dias de hoje, especialmente numa disciplina que é suposto estar na vanguarda da inovação como é o caso do design.

O sentido crítico com que podemos e devemos olhar para tudo aquilo que são soluções e processos, dar-nos-á muito trabalho a encontrar caminhos alternativos, mas também fará com que consigamos realmente fazer evoluir a indústria. Procurando novas formas de trabalhar, deixando processos datados para trás e no final do dia, trazendo maior valor para as marcas, mas também para os serviços e negócios da nossa própria indústria.

Fotografia © Jeff Sheldon (Unsplash)