Na comunidade de designers portugueses ou a trabalhar em Portugal, de tempos a tempos, pelo meio da discussão se deveríamos ou não ter uma ordem profissional, surge também o debate se o design português, tem ou não já uma identidade própria. Não é uma discussão fácil. Pois para além do distanciamento temporal que permita identificar tendências e padrões na indústria, esta reflexão carece sempre também de uma comparação com os demais mercados, para se tentar perceber onde se diferencia, ou não, o design português dos restantes.
Por outro lado é também uma discussão apaixonante. Imaginar que possa existir no design português algo que o diferencie, quer a nível processual quer a nível estilístico de outros, é uma algo extraordinário e que muito deve orgulhar a comunidade. Sendo o design português fruto de uma evolução histórica e um contexto económico muito particular, não será difícil encontrar fatores que possam ter contribuindo ao longo das décadas para consolidar uma qualquer identidade particular.
Conhecer a história
Contudo, toda esta discussão se o design português tem hoje ou não uma identidade própria, obriga, todos quantos queiram participar nesta conversa, a uma coisa muito concreta: conhecer a história do design português. Como chegámos até aqui, que evolução sofreu a prática do design em Portugal, como se formou o classe, os seus desafios e impacto na economia, são tudo tópicos que não podem estar aliados desta discussão.
Mesmo vivendo uma era absolutamente digital, é nos livros e na alguma obra literária que tem sido publicada ao longo dos anos sobre o design português, que poderemos encontrar as respostas a várias destas questões. A par da investigação académica que tem nas últimas décadas sido produzida sobre a evolução do design português, podemos encontrar à venda (na generalidade dos casos), algumas obras que poderão ser ajudas muito preciosas para redescobrirmos, através dos livros, o design e os designers portugueses de muitas épocas.
Coleção D
A Coleção D (primeira edição em 2011), é um projeto da Silvadesigners em parceria com a Imprensa Nacional – Casa da Moeda, que se assume na essência como uma obra “dedicada aos designers portugueses de todas as épocas com especial atenção aos criadores contemporâneos”. Abordando em cada edição a figura de um designer português em jeito de monografia, a escolha de autores percorre áreas tão díspares como o design de comunicação, design editorial, ilustração ou até mesmo design de equipamento.
Design Português
A coleção Design Português (primeira edição em 2015), integrada nas atividades do Ano do Design Português 2014/2015 dinamizado em conjunto pelo Ministério da Economia e da Secretaria Estado da Cultura, utilizando uma abordagem cronológica, procura levar o leitor numa viagem pela história do design português desde 1900 a 2015. Entrelaçando o percurso individual de muitas figuras do design português com a própria história do país, esta coleção é um dos contributos mais estruturados e organizados, para a construção daquilo a que possamos chamar de história do design em Portugal.
Colecção Designers Portugueses
A Colecção Designers Portugueses (primeira edição em 2016) é outra abordagem em jeito biográfico do percurso de alguns dos mais importantes designers do país ao longo das décadas. Referenciando autores de áreas tão diferentes como o design gráfico, ilustração ou design de moda, a coleção equilibra figuras representativas do design do início do século XX e outras mais contemporâneos dos nossos dias. Sempre num registo bastante fotográfico e documental, focado nos projetos de cada autor, os livros são mais um importante contributo para a memória coletiva da história do design português.
Fundação Calouste Gulbenkian
A par destas três coleções, algumas edições da Fundação Calouste Gulbenkian são também contributos muito importantes para uma redescoberta da história do design português. Desde sempre uma marca intimamente associada ao design (por exemplo Sebastião Rodrigues trabalhou muitos anos a comunicação da instituição), a fundação tem ao longo dos anos desenvolvido exposições e catálogos, que são autênticos marcos na documentação do trabalho de alguns dos mais relevantes designers portugueses da história. Entre muitos outros, a Fundação Calouste Gulbenkian, foi responsável nos últimos anos por exposições e catálogos de autores como:
Não sendo os únicos casos, estas exposições os catálogos que eternizam o seu trabalho documental, representam em alguns casos, algumas das obras mais importantes e mais completas para uma qualquer e eventual resenha histórica do design português ao longo das décadas, em várias áreas da disciplina.
História como fonte de inspiração
Será que o design português tem uma identidade própria? A resposta a esta questão, quase existencial está muito longe de ser consensual. A bem da verdade, poderíamos contra-argumentar com a ideia de que será que temos já o distanciamento histórico para responder a esta questão? Independentemente das opiniões sobre o tema, uma coisa é certa. Tentar responder, seja de que forma for a esta pergunta, desafia qualquer designer a partir à descoberta da história do design português.
Para compreender de forma fundamentada como aqui chegámos é absolutamente primordial, conhecer o caminho, os contextos e as figuras de como aqui chegámos. Só assim, poderemos olhar para o presente e encontrar a razão de muitas coisas, compreender as causas e perceber muitos dos caminhos que poderemos seguir daqui em diante, enquanto comunidade.
Fotografia © Olga Tutunaru (Unsplash)