Transformar a acessibilidade das empresas com o AccessFrame

Podemos começar uma conversa sobre acessibilidade digital de muitas formas diferentes. E também assim. A humanidade já foi à lua e veio (e não tarda muito estamos em Marte). Superou guerras intercontinentais e reconstruiu países inteiros. Criou uma organização plural como as Nações Unidas. Inventou tecnologias extraordinárias. Globalizou o acesso a uma rede de informação como a internet.

Mas, continuamos ainda a assistir impávidos e serenos ao facto de que muitas pessoas com necessidades específicas não conseguem realizar online, tarefas tão básicas como utilizar um serviço público. Comprar um produto numa loja. Ler notícias ou ter acesso a muitas outras informações, simplesmente porque estes produtos digitais não cumprirem as mais elementares regras e boas práticas de acessibilidade digital.

O digital é reconhecido nas empresas como uma área de investimento extraordinariamente importante e a justificação para isso está bem à vista dos nossos olhos. Para além do impacto que esse investimento imediato pode ter nos negócios, o digital pode igualmente ser uma ferramenta valiosa para a democratização do acesso à informação e do conhecimento, no mais amplo e verdadeiro sentido das palavras.

Um dos maiores investimentos que as empresas podem fazer no futuro digital dos seus negócios em particular e da sociedade em geral, é através da acessibilidade digital, tornar os seus produtos e serviços digitais, verdadeiramente acessíveis. Produtos e serviços capazes de serem utilizados por todas as pessoas, independentemente das suas características pessoais, idade ou até mesmo o contexto social.

Afinal de contas, para que serve às empresas um “espaço” tão global e plural como o digital se este for só para alguns dos seus consumidores? Que oportunidades de negócio é que estão a ser desperdiçadas com esta exclusão?

Contexto de cada empresa

É difícil ou praticamente impossível (e ainda bem), encontrar alguém que contrarie a ideia que a acessibilidade digital é uma área muito importante e relevante do processo de transformação digital de qualquer empresa. Isto quer dizer muitas coisas. Na visão mais simplista da coisa, pode significar que a acessibilidade digital é já reconhecida na generalidade dos casos como algo fundamental e um caminho que todas as empresas deveriam percorrer.

A bem da verdade não é muito comum encontrar alguém que diga com todas as letras, que a “acessibilidade digital não interessa”, é um tema secundário, negligenciável ou até mesmo que a empresa poderá ambicionar construir produtos e serviços digitais de referência sem se importar com o tema. Não vemos este tipo de declarações, mas quando analisamos a realidade concreta de muitos contextos, é fácil perceber que é isto que acontece.

A parte desafiante do tema da acessibilidade digital, não está quase nunca na concordância com a importância do tema, mas sim, especialmente para as grandes organizações, no “como” atingir isto. Como é que conseguimos tornar os nossos produtos e serviços digitais acessíveis? Como é que conseguimos fazer isso de forma sustentada no tempo? Como conseguimos criar alguma economia de escala em soluções acessíveis? Como planeamos os custos e iniciativas que serão necessárias para que tudo isso aconteça? Como envolver transversalmente toda a empresa com estas preocupações? Estas são só algumas das questões que podem surgir no princípio desta conversa e que quase nunca têm uma resposta linear.

A resposta mais comum poderá quase sempre andar à volta de uma palavra mágica, “depende”. Depende dos produtos e serviços digitais da empresa. Depende do tamanho e área de negócio da empresa. Depende da maturidade atual das equipas. Depende do orçamento e recursos disponíveis. Depende de uma imensidão de fatores que são absolutamente essenciais para que no contexto específico de cada empresa, consigamos fazer um caminho sustentado de transformação verdadeira da acessibilidade.

É uma resposta demasiado aberta, é bem verdade. Mas, é a mais pura das verdades. Só o contexto particular de cada empresa pode determinar qual a estratégia mais acertada para levar a cabo esta transformação acessível.

Acessível mais que conforme

A evolução do quadro legislativo da acessibilidade digital garante que o tema pode ter no curto, médio ou longo prazo a importância que merece nas empresas. De alguma forma, pequenas, médias ou grandes empresas, a propósito da evolução legislativa, terão que olhar para o tópico de forma estruturada. Tudo isto é fantástico. Se não for possível de outra maneira trazer o tema da acessibilidade digital para a ordem do dia, ao menos que seja por via de lei. Em último caso este é sempre uma salvaguarda dos direitos fundamentais de qualquer cidadão.

Contudo, esta abordagem legislativa pode ter alguns desafios. O maior de todos passa fundamentalmente por um olhar para o tópico da acessibilidade, exclusivamente pela perspectiva da conformidade para com a lei. O principal e mais elementar objetivo da acessibilidade não é simplesmente estar conforme com a lei. O trabalho de acessibilidade só é importante porque o seu objetivo passa por pensar, desenhar e desenvolver, produtos e serviços digitais realmente acessíveis. Capazes de serem utilizados pelo maior número de pessoas. É só por causa disto que existe a acessibilidade digital. O seu propósito inclusivo, mais que a sua obrigação legal.

Embora o enquadramento legal possa ser um excelente motivo para começar a conversa, é importante que não se fique por aí. Não podemos, nem devemos, olhar para a acessibilidade com uma perspectiva simplista como um mero requisito legal. O trabalho de acessibilidade ganha realmente uma dimensão relevante, quando colocamos as pessoas no centro desse processo. Quando pensamos mais nas necessidades das pessoas (com todas as suas diferenças), do que neste ou naquele artigo da lei.

Pelo lado das empresas, a acessibilidade digital e o seu trabalho continuado, pode traduzir-se também num excelente retorno de investimento. Seja pelo crescimento da visibilidade da marca online, a capacidade para aumentar a sua cota de mercado ou pela perspectiva de simplificação de processos e como consequência diminuição dos custos de canais de suporte. Muito pode ser o retorno de investimento da acessibilidade e essa perspectiva também interessa bastante aos negócios das empresas. A conversa que pode começar com uma mera perspectiva legal, o que não tem problema absolutamente nenhum, pode se tornar rapidamente num valor acrescentado num mercado cada vez mais competitivo.

Legislação nacional

Em termos legislativos em Portugal o cenário tem sofrido profundas alterações ao longo dos anos, também para o setor privado, muito decorrente do trabalho a nível europeu com o European Accessibility Act. O setor público tem de alguns anos a esta parte um quadro legislativo que pode ser considerado dos mais completos e inovadores a nível europeu. Embora o cenário atual esteja ainda muito longe do desejável, é um facto inegável que em Portugal o setor público vai bastante à frente do setor privado naquilo que diz respeito à valorização da acessibilidade digital.

O setor privado só a partir do final do ano de 2022 dispõe de um quadro legislativo robusto o suficiente para que se possa tornar um desafio efetivo para as empresas. Para além de um âmbito bem definido, a lei em Portugal atualmente para o setor privado prevê alguns requisitos essenciais bem como modelos de fiscalização.

Neste enquadramento legislativo da acessibilidade digital para o setor privado em Portugal é importante ter sempre como principais referências dois documentos fundamentais.

Mudança cultural nas empresas

A acessibilidade digital é vista muitas vezes como um tópico puramente técnico. O debate anda regularmente em torno de quais as boas práticas a aplicar, como verificar os níveis de conformidade dos produtos, quais as directrizes a cumprir, etc. A acessibilidade digital é tudo isto.

Sem uma execução técnica excepcional de tudo aquilo que são os melhores padrões, não existem produtos e serviços digitais acessíveis. Contudo, quando o objetivo é fazer tudo isto em grandes empresas de forma sustentada, continuada no tempo e escalável é muito importante reconhecer a acessibilidade digital, também como um tema de cultura da própria empresa, do que simplesmente como mais uma especialidade técnica.

Para que os produtos e serviços digitais de uma empresa sejam realmente “acessíveis” não basta ter um ou outro caso de sucesso. É fundamental que a acessibilidade digital se torne numa cultura “palpável”. Enraizada no mais profundo ADN da organização, sustentado por um ecossistema que envolve transversalmente todas as pessoas da empresa com o tema e alicerçado num modelo de governança capaz de criar espaço para que tudo isto aconteça. Principalmente nas maiores empresas, não basta que um ou outro produto ou serviço digital seja acessível. É preciso que a “máquina” que constrói esses produtos e serviços, ou seja, toda a “empresa” em si mesma, seja verdadeira “acessível” do princípio ao fim em todos os processos de trabalho.

Por outras palavras, mais importante que ter um produto ou serviço acessível é essencial que a acessibilidade digital seja um fator indissociável da identidade empresa. Só assim será possível transformar a acessibilidade não de um ou outro, mas de todos os produtos e serviços digitais da empresa.

Sem fórmulas perfeitas

Mudar a identidade e o ADN de uma empresa é uma tarefa extraordinariamente difícil. Não se trata de realizar esta ou aquela ação pontual e esperar que isso transforme radicalmente o contexto. Mudar a cultura de uma empresa, neste caso para uma empresa que incorpora e realiza um trabalho de acessibilidade digital de forma estrutural, requer investimento e bastante tempo.

Investimento, tempo e uma estratégia. Uma visão de curto, médio e longo prazo de como pode dar a organização os passos certos neste rumo. Também não será descabido compreender que este tipo de transformações são complexas porque não existem fórmulas certas. O que funciona num contexto, por milhares de razões, pode não funcionar noutro. Por isso é muito importante compreender o contexto e modelo de organização atual da empresa, antes de se iniciar qualquer transformação.

Mesmo não existindo fórmulas perfeitas para todos os contextos, é sempre interessante aprender com os exemplos de outras empresas. No que toca à acessibilidade digital, existem muitas ferramentas, como os modelos de maturidade do Consórcio W3C ou o DAMM, que permitem desenhar algumas estratégias de evolução. São instrumentos incríveis mas essencialmente focados na dimensão técnica. Se o objetivo for transformar o ADN da empresa para que a acessibilidade digital faça realmente parte da identidade da empresa, poderá ser necessário ir mais fundo na dinâmica de transformação.

Tentar perceber como unir todos os departamentos da empresa em torno do tema, capacitar todas as equipas, ou até, em muitos casos intervir no próprio modelo de governança da organização. Tudo isto são iniciativas que podem estar dentro desta estratégia de transformação. Há que saber qual a melhor estratégia a seguir para cada contexto particular. E é precisamente aqui que o AccessFrame pode ajudar ou pelo menos, pode de ser certeza contribuir para o desenho da estratégia particular da empresa.

Proposta para a transformação

O AccessFrame, o modelo para a transformação da acessibilidade dos produtos e serviços digitais das empresas, é uma proposta de abordagem inicial de estratégica ao tema da acessibilidade digital para pequenas, médias e grandes empresas.

Lançado a 18 de Maio de 2023 a propósito do Global Accessibility Awareness Day (GAAD) por Ruben Ferreira Duarte, este modelo procura essencialmente dar às empresas algum referencial por onde começar o processo de transformação cultural. Construir produtos e serviços digitais em escala, requer uma cultura de empresa realmente focada na acessibilidade e isso só se constrói com uma estratégia clara de transformação.

Para construir nas organizações uma verdadeira cultura de transformação digital que assuma a acessibilidade digital como parte integrante do ADN das empresas, é muito importante trabalhar o tema segundo várias dimensões.

São essas dimensões que o AccessFrame propõe. Não como uma solução prescritiva ou fechada, mas como uma proposta para iniciar este caminho. Um caminho individual de cada empresa e que deve ser feito com um conhecimento profundo do seu contexto particular. Sem copiar fórmulas ou soluções de outras realidades, mas encontrando as soluções que mais sentido fazem para cada caso.

Na prática, o AccessFrame e as suas dimensões podem ser o ponto de partida para uma reflexão mais profunda na empresa, sobre o papel que os seus produtos e serviços digitais, podem ter num movimento inclusivo na sociedade. Uma simbiose perfeita entre os propósitos de valorização da economia através dos negócios e o fortalecimento de uma sociedade realmente mais inclusiva.

Um caminho feito em conjunto por todas as equipas e pessoas da empresa. Assumindo de forma transversal a acessibilidade como um propósito, mas também uma ferramenta de valorização do negócio. Que para além de se constituir como mais valia de tesouraria, dará às marcas da empresa a real propriedade de se assumirem junto dos consumidores, como marcas inclusivas que se preocupam com o seu legado na sociedade.

Finalidade

Não procurando, nem de perto nem de longe, assumir-se como um caminho único de evolução, o AccessFrame pode principalmente ajudar as empresas a perceberem por onde começar esta transformação. O AccessFrame, parte do princípio que as empresas só conseguem construir produtos e serviços digitais acessíveis de forma estruturada e continuada se a cultura da a empresa em si, incorporar profundamente os valores que estão na base da disciplina de acessibilidade digital.

É esse guia que o AccessFrame procura facultar às equipas e não, em momento algum, um roadmap técnico de como desenhar e desenvolver produtos acessíveis ou em conformidade com as directrizes de acessibilidade. Este modelo posiciona-se antes de tudo isso. O AccessFrame posiciona-se como um instrumento para criar na empresa as condições ideais para que toda a parte técnica aconteça de forma natural e orgânica. No fundo o AccessFrame procura criar as condições certas para que o investimento técnico em acessibilidade digital possa dar os melhores frutos no negócio da empresa.

O AccessFrame é um modelo que pode ser utilizado por qualquer equipa ou departamento na empresa. Desde os departamentos técnicos de design ou development, mas igualmente por departamentos como recursos humanos ou jurídicos. Um modelo conceptual que constrói uma base de diálogo entre todos os departamentos, não dando a acessibilidade digital como propriedade exclusiva de nenhum deles.

Dimensões

Uma das características fundamentais do AccessFrame é a proposta consubstanciada nas suas 7 dimensões. É importante ter bem presente que estas dimensões não representam entre si um processo linear ou qualquer metodologia. Mas sim, uma estrutura de organização teórica das possíveis áreas de trabalho que podem ajudar a transformar a cultura de acessibilidade digital da empresa.

As dimensões do modelo, servem exclusivamente de guia para clarificar que “pastas” de trabalho serão importantes endereçar se o objetivo da empresa for criar uma cultura de transformação digital realmente acessível. Integram como proposta essencial do modelo do AccessFrame as seguintes dimensões:

  • Avaliar melhor e em ciclos recorrentes o estado da acessibilidade dos seus produtos e serviços digitais.
  • Planear de forma estruturada toda a transformação acessível que se quer produzir no curto, médio e longo prazo.
  • Promover junto de todas as pessoas da empresa a importância e impacto do tema da acessibilidade digital.
  • Integrar as preocupações sobre acessibilidade digital em todos os níveis e políticas de organização da empresa.
  • Certificar o trabalho de qualidade que é feito internamente e a forma como isso pode potenciar através de bons exemplos o trabalho de outras equipas.
  • Capacitar as pessoas das equipas com ferramentas práticas de como contribuir, dentro da especificidade do seu trabalho, para a acessibilidade digital como um todo
  • Otimizar ao máximo todos os processos de trabalho inerentes à acessibilidade digital, garantindo economias de escalas nas boas soluções desenvolvidas.

Não existe uma única fórmula ou sequência de trabalhar todas estas dimensões. O mais importante é que todas estas dimensões cresçam de forma equilibrada para que no somatório de tudo isso se possa sentir o verdadeiro impacto na cultura da empresa desta transformação. O trabalho em cada uma das dimensões do AccessFrame, deve ser consubstanciado através da execução de iniciativas concretas. Ações participadas por todas as equipas que darão corpo à transformação.

Iniciativas

Nenhum modelo, seja ele mais estratégico ou técnico, pode causar qualquer tipo de impacto se não for executado. No caso do AccessFrame a execução faz-se através da realização de iniciativas relacionadas com cada uma das dimensões do modelo.

Todas as iniciativas integradas no AccessFrame podem ter diferentes tipos de abragência mas que no final do dia protagonizam sim o processo de transformação proposto pelo modelo.

Na prática, é através destas atividades, ou melhor, do somatório de todas elas em conjunto, que será possível fazer o caminho da transformação da cultura de acessibilidade na empresa. Na identificação e implementação das várias iniciativas é importante ter sempre em atenção que:

  • Todas as iniciativas devem equilibrar um misto de realismo face aos constrangimentos do contexto mas também ambição da transformação que se quer implementar.
  • Uma iniciativa pode estar integrada em simultâneo em mais de uma dimensão do AccessFrame, sendo os seus resultados tidos em conta em todas essas dimensões.
  • É importante que a identificação e inclusão de iniciativas decorra de um trabalho participado por todos os departamentos da empresa, ao invés de propostas sem discussão da direcção.
  • A formulação das iniciativas, deve integrar no mínimo um título que ilustre o que se pretende realizar, o objetivo a alcançar, uma descrição detalhada do seu propósito e indicadores de avaliação (eventualmente com vários marcos temporais).
  • É fundamental para o sucesso da transformação, que na dimensão “Planear”, esteja integrada uma iniciativa que ajude à definição e monitorização de métricas de análise da transformação de acessibilidade na empresa como um todo.
  • A avaliação periódica da concretização de cada iniciativa é um momento fundamental para o sucesso do modelo. Esta avaliação deve ser sincera, focado nos resultados, mais do que uma avaliação de responsabilização.

As iniciativas são uma parte fundamental do AccessFrame. Mas, mais importante que isso é não esquecer que o que está na base do modelo é o objetivo de criar uma transformação cultural real na empresa. Quer isto dizer, que o objetivo do modelo não é criar uma moldura para se fazer “muitas coisas” simplesmente para a quantificação numérica de ações.

Mais importante que fazer “muitas coisas” é fazer as “coisas certas”. Em muitos casos (em quase todos, eventualmente), o sucesso do modelo não se mede pela quantidade de iniciativas que propõe, mas sim, pelas transformações que estas operam na empresa, nos seus departamentos, nas suas equipas e nas suas pessoas. Tem muito pouco interesse trablhar com lógiscas de quantidade de iniciativas, a transformação não advém necessariamente disso.

A transformação acontece sim, quando para uma realidade específica as equipas encontram os pontos nevrálgicos em que é necessário operar a transformação e com base no AccessFrame conseguimos realizar as iniciativas certas para o nosso contexto.

Exemplos de iniciativas

Cada empresa pode, a partir do AccessFrame ou de outro qualquer instrumento, definir a estratégia de transformação da acessibilidade dos seus produtos e serviços digitais. Em todos os casos, de uma maneira ou de outra, é sempre importante consubstanciar essa abordagem em ações concretas, que o AccessFrame denomina, concretamente de iniciativas.

Tentando ilustrar o tipo de iniciativas que podem ser realizadas na empresa, utilizando este modelo como base ou não, aqui ficam algumas sugestões de iniciativas. É importante olhar para todas estas sugestões como meros pontos de partida. Não é suposto que a aplicação do AccessFrame na realidade de cada empresa inclua por obrigação todas estas iniciativas.

Estes exemplos, têm como único propósito, ilustrar o tipo de ações que podem ser realizadas nas empresas para ajudar a esta transformação. Naturalmente, a este grupo de iniciativas, poderão ser acrescentadas todas as que possam ser relevantes para o contexto de transformação de cada empresa.

A lista destas propostas é um trabalho em constante evolução. Se na realidade da tua empresa, forem identificadas outras ideias de iniciativas interessantes, será de todo interessante, incrementar esta publicação com essas ideias. Não deixes de partilhar com o DXD todas essas ideias. O teu contributo é fundamental para enriquecer este modelo e o seu papel no serviço à acessibilidade digital.

Avaliar

  • Realizar avaliações de acessibilidade digital preliminares a todas as plataformas e aplicações do ecossistema digital da empresa.
  • Realizar avaliações de acessibilidade detalhadas a todos os produtos e serviços digitais que compõem o ecossistema da empresa recorrendo à colaboração com especialistas.
  • Criar e otimizar processos de testes de usabilidade com pessoas com diferentes necessidades em todos os projetos das equipas de transformação digital.
  • Realizar recorrentemente testes de usabilidade com pessoas com diferentes necessidades, partilhando com o maior número de equipas as conclusões.
  • Definir listas de verificação de controlo de qualidade para as tarefas de todos os profissionais envolvidos nos processos de transformação digital na empresa.

Planear

  • Identificar e manter atualizado o mapeamento de todo o ecossistema de produtos e serviços digitais da empresa.
  • Definir métricas práticas e concretas de avaliação para a transformação da acessibilidade na empresa.
  • Definir os produtos e serviços digitais prioritários para a transformação da acessibilidade (segundo critérios de negócio).
  • Criar um plano de atividades para o curto, médio e longo prazo de iniciativas no campo da acessibilidade.
  • Introduzir nos planos estratégicos da empresa objetivos relacionados com acessibilidade.

Promover

  • Criar uma equipa de trabalho para a acessibilidade envolvendo todos os departamentos relacionados com a área de transformação digital.
  • Promover ao longo do ano vários eventos internos de sensibilização para o tema da acessibilidade.
  • Convidar pessoas com diferentes necessidades a partilharem as suas experiências com as equipas internas.
  • Partilhar os casos de estudo de acessibilidade de projetos realizados internamente na empresa.
  • Criar parcerias com organizações da sociedade civil.

Integrar

  • Valorizar com ações concretas na estratégia de marca dos produtos e serviços a perspetiva de acessibilidade.
  • Introduzir nas políticas internas da empresa tópicos sobre a importância da acessibilidade.
  • Criar requisitos próprios de acessibilidade para a contratação de serviços a empresas parceiras.
  • Criar requisitos próprios de acessibilidade para a contratação de novos profissionais para os diferentes departamentos relacionados com a transformação digital da empresa.
  • Introduzir o cargo na organização da empresa de “Diretor de Acessibilidade Digital”, preferencialmente com reporte direto à administração e com orçamento próprio.

Certificar

  • Criar um sistema de certificação interna de qualidade de projetos no campo da acessibilidade.
  • Certificar e valorizar através de bónus profissionais com formação e experiência específica na área de acessibilidade.
  • Auditar periodicamente todo o tipo de certificações de acessibilidade atribuídas pela empresa.
  • Definir dentro da empresa profissionais específicos para a certificação de soluções.
  • Criar mecanismos de recompensa monetária ou dias de férias para profissionais de excelência em acessibilidade.
  • Promover a certificação das soluções digitais da empresa como Selo de Maturidade Digital na dimensão de acessibilidade.

Capacitar

  • Realizar ciclos de formação online ou presencial para todos os colaboradores da empresa, especialmente os relacionados com a área de transformação digital.
  • Realizar sessões de formação específica, prática e técnica para os perfis de arquitectos de software, designers, developers e editores de conteúdos, etc.
  • Criar sistemas internos para a identificação, por parte de todos os colaboradores, de potenciais melhorias de acessibilidade nos produtos e serviços da empresa.
  • Dar autonomia às equipas de projeto para testarem em fases de descoberta do projeto novas soluções de interação.
  • Criar uma rede de embaixadores de acessibilidade na empresa.

Otimizar

  • Reduzir o ecossistema digital da empresa ao essencial eliminando soluções redundantes.
  • Implementar um design system para utilização transversal por todas as equipas em todos os produtos e serviços da empresa.
  • Centralizar toda a documentação e ferramentas relevantes do trabalho de acessibilidade.
  • Escalar para toda a empresa as melhores soluções de acessibilidade dos vários departamentos.
  • Criar uma equipa técnica de acessibilidade digital capaz de dar suporte em tempo real ao trabalho de todos os departamentos relacionados com a área de transformação digital.
  • Implementar o processo de anotações de acessibilidade nos ficheiros de prototipagem da equipa de design na passagem de materiais para as equipas de desenvolvimento.

Agora, mãos à obra

Seja com ou sem o AccessFrame, vivemos tempos extraordinariamente desafiantes também no que toca à acessibilidade digital. Com a evolução do quadro legislativo o setor público e privado vêm-se agora, legalmente, obrigados a fazer um caminho mais estruturado. Para além de ser um direito fundamental, a acessibilidade digital pode igualmente ser um fator de valorização da economia e das empresas.

É um grande desafio, é certo. Mas é também uma oportunidade que no curto, médio e longo prazo pode se tornar num fator competitivo muito relevante para quem decidir investir agora. Não é um caminho simples, é um facto. Traz consigo inúmeros desafios para os profissionais e as equipas, é inegável.

Mas, se o digital e os produtos e serviços que o povoam, não conseguirem em pleno século XXI, ser eles mesmos fatores de inclusão ao invés de exclusão, será que é este o digital que queremos construir? A resposta a esta pergunta, está na mão de cada profissional que todos os dias com o seu talento e dedicação constrói o digital do futuro. Um lugar onde tudo acontece, essencial para a vida quotidiana que conhecemos.

O AccessFrame pode ser mais uma ajuda neste caminho.

Aqui, no blog DXD poderás encontrar muitos outros conteúdos e recursos sobre acessibilidade que te podem ajudar a ti e à tua empresa neste processo de transformação acessível. Olha para todos estes contributos com sentido crítico, pois nem sempre poderão ser a resposta para as tuas necessidades. Só tu tens o conhecimento do que faz ou não sentido na tua empresa.

Não esperes pelo contexto, orçamento ou calendário perfeito para começar a transformação de acessibilidade. Um dia a mais de espera é menos um dia que terás para fazer este caminho incrível. Atira-te de cabeça. Aprende com tudo aquilo que acontecerá e tenta fazer melhor, todos os dias.

Em caso de dúvidas ou sugestões não deixes de entrar em contacto. Todas as mensagens são muito bem-vindas e a acessibilidade digital, ganha imenso com a partilha e troca de perspectivas.

Fotografia © Alexander Grey (Unsplash)