Uma das coisas fantásticas de trabalhar em design é que é relativamente fácil articular diferentes atividades profissionais com o trabalho de freelancer. Quer seja como complemento ou atividade exclusiva, trabalhar como profissional independente (freelancer) é uma experiência muito rica a todos os níveis.
É lógico que conforme o grau de envolvimento com esta atividade alguns fatores possam mudar. Se trabalharmos como freelancer a tempo inteiro, seguramente o volume de trabalho a que podemos dar resposta e até a forma como abordamos cada um desses desafios tende a mudar. Seja enquanto complemento ou atividade a tempo inteiro, o trabalho freelancer traz consigo um conjunto de mais-valias muito significativas para qualquer profissional (para além claro de muitos desafios adicionais).
Porquê trabalhar como freelancer?
É importante olhar para qualquer tema com ponderação. Não raras vezes é muito fácil cairmos em extremismos e ser apaixonado ou absolutamente contra alguma coisa. Estas duas soluções nos extremos podem não ser as únicas duas posições a tomar. Quando falamos de trabalho freelancer ou trabalho remoto, dois temas particularmente importantes para a disciplina de design nos dias de hoje, assistimos, muitas vezes, a posições extremadas.
Não precisa ser assim. No que toca ao trabalho freelancer existem efetivamente muitas mais-valias. Bons argumentos que nos podem levar, a nós designers, a também enveredar por esta tipologia de trabalho. Para reflexão, aqui ficam algumas das mais-valias que nos podem fazer pensar com outros olhos nesta solução.
1. Negócio próprio
Gerir um negócio próprio é um grande desafio. Contudo, é também uma oportunidade de montar um negócio baseado estritamente nos nossos princípios, valores, maneira de encarar o mundo e até processos de trabalho. Podemos fazer deste negócio aquilo que bem entendermos da maneira que mais sentido fizer para nós. Claro que sendo um negócio, é suposto também que ele seja rentável, mas podemos fazer com que isso aconteça de muitas maneiras diferentes.
2. Equilibrio pessoal e profissional
Se nós somos os principais gestores do negócio, somos também quem determina como gerimos o nosso tempo. O equilíbrio entre a vida pessoal e profissional sai muitas vezes prejudicado quando são outros a gerir os tempos de projeto. Estando neste contexto nós com essa responsabilidade é mais fácil fazer uma gestão equilibrada, dentro claro, dos constrangimentos daquilo que é gerir a relação de projetos com clientes.
3. Direcção criativa
Para um designer, trabalhar por conta própria como freelancer isso também quer dizer que será ele a fazer a direcção criativa de cada projeto. Cada designer tem uma visão particular de abordar cada projeto. Muitas vezes em equipas maiores, a responsabilidade da direcção criativa está noutras pessoas o que cria algumas vezes frustrações. Trabalhar como freelancer dá-nos também a oportunidade de imprimir o nosso cunho criativo em cada projeto, sem nenhum tipo de amarras.
4. Liberdade de localização
Nem sempre foi assim, mas o trabalho remoto veio para ficar (e ainda bem). E isto é tão verdade em tantas empresas como é ainda mais se trabalhares por conta própria. Para além de poderes abraçar um mercado global e não só nacional, trabalhar como freelancer dá-te também a oportunidade de trabalhares, com um computador portátil e meia dúzia de softwares, a partir de qualquer ponto do planeta.
5. Trabalhar em rede e parceria
Trabalhar como freelancer, pode não quer dizer, trabalhar sozinho. É muito importante que isto fique bem claro. Para além da relação de parceria que podemos e devemos estabelecer com todos os clientes, temos igualmente a oportunidade de envolver em cada projeto outros profissionais. Num projeto freelancer não temos que fazer tudo de fio a pavio. Podemos complementar as competências da equipa de projeto com o talento de outros profissionais. Isto constitui-se ao mesmo tempo também como uma oportunidade de aprendizagem pessoal.
São só coisas boas?
Não, não são. Ou melhor dizendo. Se trabalhares por conta própria como freelancer tens efetivamente muitas mais-valias. Não é melhor nem pior que qualquer outra tipologia de trabalho. Tem coisas incríveis, mas é bom também não esquecer que também vais ter que lidar com muitos outros temas que eventualmente não terias se trabalhasses por conta de outrem.
É importante encarar a atividade de freelancer com seriedade. Não é solução de trabalho para “desenrascar” umas coisas e ganhar uns trocos. Trabalhar como freelancer é um tarefa muito séria, seja como atividade complementar ou principal. E isso quer dizer que teremos a responsabilidade sobre uma série de temas.
1. Vender os teus serviços
Pois é. Temos uma má noticia para te dar. Se não conseguires promover e claro, vender os teus serviços, não há trabalho para ninguém. Esta é uma verdade cruel e para qual muitas vezes não estamos preparados. Mas o processo de venda é uma parte fundamental de qualquer atividade. Se trabalhares por conta própria, tu serás o designer mas também o comercial do teu negócio. É uma tarefa muito difícil e que com certeza aprenderás a valorizar bastante depois de passares por esta experiência.
2. Gerir tempos de projeto
Sermos nós a gerir o tempo de projeto é bom. Permite-nos criar uma série de equílibrios entre a vida pessoal e profissional. Apesar disso existe um reverso da medalha que importa não esquecer. Também passamos a ser nós que temos que garantir que os projetos são concluídos a tempo e horas.
3. Pagar contas
Trabalhar como freelancer é coisa séria e deve ser encarado com maturidade. Isto quer dizer que se vamos estar a fazer dinheiro, com base no nosso talento e tempo, também utilizando alguma “matéria-prima”, temos que pagar por isso. No contexto do design a matéria-prima está em nós. Mas para a transformar vamos precisar de muitas coisas. Softwares, bancos de imagens, famílias tipográficas, etc. Tudo isso tem um custo. Algumas destas coisas podes encontrar como recursos gratuitos o que é ótimo. Outras destas ferramentas é suposto que pagues por elas. Gerir um negócio as custas de “roubar” ferramentas e outros materiais a outras empresas e profissionais, não é de todo uma boa política. Imagina que faziam isso com o teu trabalho. Como te sentirias?
4. Lidar com a burocracia
Não vais ter volta a dar. Se vais trabalhar por conta própria vais ter que tratar da burocracia do negócio. E olha que podem ser bastantes temas. Processar facturas, contribuições para a Segurança Social, pagamento periódico do IVA, etc. Tudo isto são temas que não vais poder ignorar. Sugestão. Se conseguires, procura alguém que te possa ajudar com estes temas. O tempo que vais libertar com isso, podes utilizar a fazer aquilo que mais gozo te dá. E no final até pode compensar em muito o valor que possas ter que pagar a esta ajuda adicional especificamente com estes temas.
5. Trabalho solitário
Não tem que ser assim, mas muitas vezes, trabalhar como freelancer pode querer dizer, trabalhar de forma muito solitária. E visto desta perspectiva isto não é nem bom nem mau. Contudo, trabalhar sempre sozinho faz-te perder também oportunidades de aprendizagem com outros profissionais. E isto sim é um ponto importante numa área em tão grandes transformações constantes como é o caso do design. é fundamental manter um processo de aprendizagem constante. Isto também acontece através do contacto com outros profissionais e o envolvimento com a comunidade de diferentes formas.
Porque não experimentar?
Se ainda estás na dúvida se deves experimentar ou não, podes tentar simplificar a questão da seguinte maneira. Porque não experimentar? Claro que tem que ser uma decisão ponderada. Claro que vai exigir algum tempo adicional ao teu dia a dia e isso deve ser equilibrado com a vida pessoal, para lá do trabalho. Mas não há como experimentar, mesmo que seja em pequena escala, com um ou dois projetos e depois fazer a avaliação da experiência.
Começar ou não a trabalhar como freelancer não é uma decisão transformadora. Pode ser só mais um experiência. Pode correr bem. Como podes chegar à conclusão que é algo que não queiras fazer e está tudo perfeitamente bem. No final do dia a decisão é só tua.
Fotografia © Mathieu Stern (Unsplash)