A mentoria entrou definitivamente no léxico da comunidade de design em Portugal. E isso é ótimo. A mentoria é uma atividade bastante nobre e uma forma sustentada de profissionais com mais experiência acolherem e ajudarem profissionais com menos experiência a começar o seu caminho no mercado de trabalho.
Plataformas como a ADPList vieram ajudar e muito todo este processo. Soluções bastante otimizadas que permitem conectar quem procura ajuda a quem está disponível para ajudar. Para quem procura mentoria, esta pode ser a única forma de ter acesso ao conhecimento e experiência de alguém que sabe algumas coisas mais, fruto do seu caminho na área. Para quem disponibiliza essa mentoria é também uma forma de conhecer novos profissionais e conseguir medir o pulso ao mercado, para além claro da vontade abnegada de querer ajudar quem agora está a começar.
A popularização da mentoria, como em tudo, tem também alguns efeitos perversos. Perversos é uma palavra muito forte, é certo. Mas não deixa de ser uma palavra útil para caracterizar alguns dos desafios (ou coisas menos boas) que se popularizaram com as mentorias, quer seja do lado do mentor quer seja pela perspectiva de quem procura esse tipo de mentoria.
Por quem procura mentoria
Antes de mais é um fantástico ato de humildade, reconhecer que toda a ajuda é bem-vinda, mas também um compromisso sério que se assume. Ir a procura de mentoria implica estar disposto a fazer um caminho sério de evolução. Procurar mentoria não pode ser uma atividade como ir a uma loja de roupa experimentar uma peça de roupa e se não se gostar trocasse por outro. É preciso respeito pelo tempo de alguém que se predispõe a ajudar e compromisso.
Sem isto o espirito da mentoria fica ferido de morte. A mentoria é coisa séria para quem a procura porque exige de nós um trabalho estruturado. Um empenho e uma vontade verdadeira de fazer e ser melhor e quem sabe poder devolver a comunidade, também através da mentoria, algo que recebeu.
Por quem oferece a mentoria
Para quem se dispõe a oferecer mentoria, este também não é um desafio menor. Colocar-nos na posição de mentores tem que ser muito mais que colecionar mais um título para publicitar no Linkedin. Primeiro exige que tenhamos a humildade de percebermos que podemos ainda não estar no nível de experiência pessoal, que pode acrescentar valor ao caminho que outros estão a fazer, neste caso em específico como mentores. Existem coisas que só chegam com o tempo e temos que ter calma para aí chegar.
Por outro lado, oferecer mentoria exige uma outra coisa, tempo. Acompanhar alguém é uma tarefa complexa. É preciso conhecer quem temos a nossa frente. Perceber que não devemos formatar essa pessoa a nossa imagem. Pelo caminho é preciso saber conviver bem com a frustração de ver as outras pessoas a caírem exactamente nos mesmos erros pelos quais já passámos e fazer muito pouco para evitar isso. O erro é parte fundamental de qualquer processo de aprendizagem e é importante que não se saltem etapas.
Toda a ajuda é bem-vinda, mas…
É preciso estar ciente das responsabilidades em causa, especialmente quando isso implica algum tipo de relação com colegas. É importante valorizar quem temos a nossa frente, seja em que posição for, estando verdadeiramente disponíveis para escutar e não procurar só aquilo que se quer ouvir. Ao procurarmos ajuda, vamos muitas vezes ouvirmos coisas que não queremos. Não quer dizer que estejam “correctas”. É importante saber conviver com a crítica e com sentido crítico, decidir em cada momento o caminho que é melhor para cada um de nós.
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