O nome do design system será assim tão importante?

A resposta à pergunta se “o nome do design system será assim tão importante?” pode ter, conforme cada autor, respostas muito diferentes. As tipologias de respostas podem facilmente oscilar entre uma defesa cerrada da importância de que o design system deve ter um nome próprio, até ao outro lado do espectro em que o nome em si não tem nenhum impacto naquilo que é suposto ser o sistema para a organização e o seu funcionamento.

Pessoalmente e numa perspetiva muito particular do tópico, eu sou daqueles que acredita que o facto do design system ter um nome próprio, uma identidade particular, vai contribuir em muito para a sua afirmação, impacto e relação das várias equipas da organização com o sistema em si. Acredito nome e na inspiração que ele traga à organização, como um instrumento fundamental para que o design system, seja muito mais que uma ferramenta utilitária. E vou tentar explicar porquê com um punhado de ideias simples.

1. Uma visão e história antes de tudo

Uma das características mais reconhecidas nos design systems é a sua capacidade de se tornarem em ferramentas absolutamente transversais nas organizações. Algo que vai muito para além de um instrumento das equipas de design e development, para se tornar em algo que está à disposição de todas as equipas de produto e serviço.

Acontece que uma ambição deste tamanho, só pode ser suportada por uma visão comum muito forte. Uma visão que desafie todas as equipas sem excepção a irem muito para lá da trivialidade do seu dia a dia. Que as inspire a construir melhores produtos e serviços, com base nas melhores e mais avançadas ferramentas.

A visão do design system, pode ser isso mesmo. Uma “North Star” capaz de tangibilizar o propósito pelo qual a organização deve investir na construção e manutenção de um design system. Aqui o nome do design system, pode ser uma manifestação dessa visão. Um nome que faça as equipas imaginarem qualquer coisa. Seja através de analogias mais ou menos evidentes, mas que contem uma história que facilite o envolvimento das pessoas, com mais que uma mera ferramenta de trabalho “chata” como tantas outras.

2. Muito mais que componentes

Embora sejam os design systems uma ferramenta de trabalho, que o são, queremos que eles sejam reconhecidos como muito mais que isso. Um design system, na mais ampla concepção do conceito, não é só uma “biblioteca de coisas”. É um ecossistema plural de experimentação. Um mindset e perspetiva particular de olhar para cada desafio relacionado com os produtos e serviços digitais da organização e que se querem virados para o futuro.

Contudo, nem sempre é fácil transmitir esta ideia. Se olharmos ao dia a dia das pessoas nas organizações elas estão rodeadas de ferramentas. Aplicações para fazerem isto e aquilo (muitas vezes de forma absolutamente mecânica). Queremos que os design systems, sejam muito mais que mais uma ferramenta no monte destas já muitas ferramentas. E por isso mesmo temos que personalizar e humanizar ao máximo esta relação.

O nome pode ser mais uma forma de fazer isto. Um nome que transmita uma história e que desafie o formalismo das relações de trabalho dentro da organização. Um nome que seja divertido, descomplexado, mas também que reflita a importância do sistema. Que seja capaz de comunicar com muitas pessoas diferentes, independentemente do seu conhecimento técnico sobre design systems ou mesmo transformação digital.

3. Relação com diferentes públicos

Afirmar os design systems como um instrumento transversal dentro da organização traz consigo inúmeros desafios. É certo que no final do dia os design systems são também uma ferramenta técnica. Mas, se queremos que eles se tornem mesmo, instrumentos transversais, é importante ter a consciência que teremos que conseguir falar sobre o tema com qualquer tipo de perfil dentro da organização.

Designers, Developers, Product Owners, Business Analysts, claro. Mas também todo o tipo de gestores, managers ou directores (de áreas tecnológicas ou não). É muito importante saber o papel de cada um destes profissionais no que toca a sua relação com o design system, porque no final do dia, todos têm um contributo extraordinariamente importante a dar à evolução dos sistemas. Os design systems não são uma “coisa” de designers e developers. Não são, mesmo!

O facto do design system ter um nome, pode ser um belo ponto de partida para qualquer conversa. Antes de explicarmos o design system como isto ou aquilo, altamente complexo e técnico, introduzir o design system como uma ideia, uma analogia, um símbolo, pode ser meio caminho andado para uma compreensão mais simples. Começar uma conversa partindo de um ponto comum, mesmo que a seguir tenhamos que fazer uma conversa mais técnica, facilita a comunicação seja em que circunstância for. E isto só pode ser ganho para algo que se quer o mais transversal possível.

4. Elasticidade na comunicação

A missão de uma equipa de gestão de um design system, vai muito para além de fazer componentes. Os componentes são uma peça fundamental de qualquer sistema. Sem eles não há sistema e nada do impacto que o design system pode ter na organização. Mas um sistema repleto de componentes, mas com uma relação muito distante da realidade e das pessoas da organização, também não vai muito longe no caminho que tem que fazer.

Comunicar é uma das missões mais importantes de uma equipa de gestão de um design system. Em quase todas as realidades, mais importante que fazer muitos e bons componentes. Sem comunicação não há envolvimento das restantes equipas com o design system. Sem envolvimento das restantes equipas não há aplicação do design system em produtos e serviços da organização. Sem aplicação do design system em produtos e serviços da organização o impacto do sistema será um redondo e ultrajante nulo.

O nome do sistema pode ser também ele um bom mote para a comunicação. Para além de poder tornar a comunicação muito mais pessoal e dinâmica o nome pode trazer consigo um imaginário quase infinito para esta comunicação. Pode ilustrar encontros, ajudar a comunicar dentro dos canais internos da empresa, servir de imagem específica para a comunicação do sistema, dar espaço a trocadilhos e tudo o que a criatividade consiga imaginar e ajudar a identificar o que diz respeito ao design system dentro da organização.

5. Identificação inequívoca

Imaginem o contexto de uma média ou grande empresa. Agora imaginem tudo aquilo que acontece dentro de empresas deste género. A comunicação formal sobre os mais variados temas. Tópicos sobre projectos e iniciativas da empresa, informação de recursos humanos, envolvimento das pessoas nos seus projectos no dia a dia, etc. Tudo isto está acontecer ao mesmo tempo dentro da empresa e gera muitas vezes fluxos de informação difíceis de acompanhar.

Um nome é em última análise um identificador. Podemos percebemos mais ou menos bem ao inicio, perceber a que se refere ou não, ter uma curiosidade maior ou mais pequena por explorar o tema, mas ajuda-nos no final do dia a saber que isto é identificado por este nome. Os nomes dos design systems servem também para isto. Para sabermos o que chamar a cada coisa, neste caso ao design system, de forma absolutamente inequívoca.

No caso dos design systems, o sistema ter um nome próprio, especialmente numa grande organização pode também ajudar a diferenciar entre vários design systems dentro da mesma organização. Não raras vezes, dentro da mesma organização existem vários design systems diferentes. Podemos discutir se isto faz ou não sentido, mas esta é uma realidade que não é assim tão invulgar e onde o nome pode ser mais uma ajuda na diferenciação.

Exemplos de outros sistemas

Se olharmos para alguns daqueles que são os design systems mais antigos e de maior referência, vemos que quase todos (nem todos) têm um nome próprio. Em muitos casos o nome é mais que isso mesmo. Mas traz consigo também um imaginário e ambição própria do lugar que é suposto ocupar cada design system na organização.

Escolher um nome, seja para o que for, nunca é uma tarefa simples. Uma palavra ou um conjunto delas, que deve refletir tanta coisa ao mesmo tempo, sem se tornar uma ideia extraordinariamente complexa. Em jeito de inspiração e referências, aqui ficam alguns nomes de design systems.

Ponto de partida

Começar por pensar num nome para o design system, antes mesmo de qualquer coisa, pode ser um bom quebra-gelo para o projecto. Antes das equipas começarem o caminho formal de construção e manutenção do design system, criar dinâmicas que envolvam vários stakeholders na organização a pensar o nome (e pelo caminho o âmbito) do sistema, pode ser um belo ponto de partida para o projecto.

Como em qualquer projecto de transformação digital, mesmo em âmbitos de transformação muito acelerados, é importante não saltar etapas fundamentais. Um design system é muito mais que um amontoado de componentes, é um mindset que se quer transversal na organização. E para que ele se transforme nisso mesmo é fundamental fazer o trabalho de envolvimento das várias equipas com princípio, meio e fim. Começar esse envolvimento pela definição da visão e do nome do sistema, pode ser um pontapé de saída muito inteligente.

Fotografia © Sven Brandsma (Unsplash)