A ideia de “novo” é uma ideia muito “cara” em design. Quase nunca dizer que aquilo que estamos a fazer não é algo “novo” ou “inovador” será bem visto pela indústria ou pelos nossos clientes. Todos queremos estar na crista da onda da novidade. Fazer coisas que “nunca foram vistas”. Coisas arrojadas. Que rasguem com os modelos estabelecidos. Dizer que aquilo que fazemos “não traz nada de novo”, pode não ser muito bem percebido e isso não joga a nosso favor.
Existe uma série de mal-entendidos neste tipo de concepções.
Será que tudo aquilo em que o design pode contribuir para a melhoria da vida das pessoas no dia a dia precisa ser “disruptivo”? Será que em alguns casos, “fazer bem”, ao invés de “fazer diferente” (quando os dois conceitos não são possíveis de conjugar) não chegará? O que é realmente “novo” e o que não é simplesmente “mais do mesmo” mas com uma “embalagem” mais sexy?
O conceito de “novo” tem muito que se lhe diga. Dizer que algo é “novo”, pressupõe por exemplo, conhecer tudo aquilo que foi feito antes e que possa ser comparável com aquilo em que estamos a trabalhar no momento. Conhecer tudo aquilo que antecedeu este momento, é uma tarefa grande, mesmo muito grande. Será se quer possível? É importante utilizar a palavra “novo” com algum cuidado (muito cuidado, diria eu até). Se não, corremos o risco de estar simplesmente a vender “banha da cobra”, ou melhor dizendo, corremos o risco de estar a vender uma coisa como “novo” e afinal não o ser de todo.
Ideia de novidade limitada
Toda esta discussão, pode levar também a questionar a importância da “memória”. Memória não só de cada um de nós que afirma algo como “novo”, mas principalmente a memória coletiva de uma disciplina como a do design em si. Para dizermos que alguma coisa é realmente “novo”, é importante ter “memória” de tudo aquilo que está para trás. E mais uma vez, esta não é uma tarefa nada fácil.
Façamos o seguinte exercício. Vamos por exemplo, restringir a conversa da memória só ao âmbito de atuação da disciplina de design (nas suas várias vertentes). Dizer que em termos de design a solução que estou a propor traz algo de “novo”, quer dizer que eu conheço tudo aquilo que foi feito antes para resolver aquele mesmo problema e sei que nunca nada do género foi proposto.
Design faz-se de história
Isto são muitos anos de história do design e trabalho de milhares de profissionais, que eu estou a dizer com uma certeza arrebatadora que conheço, e sei que nunca nada fizeram se quer parecido com aquilo que estou a propor no momento. Será que conseguimos ter esta certeza tão grande? Ou a minha concepção não está simplesmente restringida com o muito ou pouco conhecimento que eu possa ter? Será que a nossa concepção de “novo” não está limitada (em certa medida) com a minha “memória” daquilo que foi feito para traz?
A história, nesta caso a histórias do design, é muitas vezes um tema malfadado. Basta ouvirmos a palavra “história” e começamos a ouvir bocejos na sala. Exista uma frase de George Orwell que é incrivelmente elucidativa do poder da “memória” e que refere que “Quem controla o passado, controla o futuro. Quem controla o presente, controla o passado.”. Podemos ler a frase de muitas maneiras diferentes. Mas independentemente da perspetiva, uma coisa é certa. Não há futuro sem passado. É o conhecimento desse passado que nos dará mais ferramentas para pensarmos futuros realmente inimagináveis, ou por outras palavras, que tragam realmente algo de “novo”.
Fotografia © Alexander Grey (Unsplash)