Os desafios de fazer crescer um negócio

Gerir um negócio é um trabalho díficil. Especialmente negócios por conta própria ou pequenos negócios, onde muitas vezes a margem para errar em decisões de gestão é bem mais pequena. Criar de raiz e fazer crescer um negócio é das atividades mais ricas pela qual qualquer profissional pode passar, seja em que área for.

Conseguir definir e melhorar a proposta de valor a oferecer aos clientes, montar uma operação o mais saudável e eficiente possível, conseguir contratar e manter motivadas as equipas ou ainda lidar com toda a burocracia relacionada, são tarefas que acarretam grandes desafios para qualquer empreendedor.

Esta é das experiências mais enriquecedoras pela qual qualquer profissional pode passar. É importante ser tecnicamente exímio em algo. Mas se queremos que essa aptidão se transforme em negócio, levando essa proposta de valor a mais e mais pessoas (clientes) vamos ter que mergulhar em muito mais áreas do que só a nossa de especialidade técnica e aquilo que gostamos de fazer.

Ideias revolucionárias

Esta é a parte mais difícil desde texto, mas é importante que seja dita (ou melhor, escrita). Qualquer empreendedor está convencido à partida que tem uma ideia de negócio incrível. Que existe uma necessidade basilar da humanidade que séculos e séculos de evolução não conseguiram suplantar ou que simplesmente nunca ninguém teve o génio de identificar aquela como uma grande oportunidade. É muito importante parar e fazer o exercício de advogado do Diabo. Nós vamos colocar a seguir muito do nosso tempo (e dinheiro) a montar um negócio sobre uma ideia que pode ser uma autêntica fraude.

Por muito que isso nos possa doer é fundamental, parar e fazer uma análise fria e critica da ideia de negócio que temos à frente. Tentar ouvir outras pessoas, especialmente aquelas em quem mais confiamos, mas que nos sejam capazes de dizer aquilo que realmente pensam. Podemos estar com isto a evitar um caos e muito seguramente vamos agradecer muito a quem for franco connosco, pois isso pode poupar grandes transtornos nas nossas vidas.

Não definir tudo a partida

Pode parecer um processo meio caótico ou até um péssimo concelho, mas não criar um negócio com tudo e mais qualquer coisa escrita preto no branco no papel e “fechado” dá-nos muito espaço para trabalhar de forma iterativa. Ninguém tem todas as respostas, isto é certo. E numa etapa inicial do negócio vamos ter que perceber qual a melhor proposta de valor.

Para isto vamos (e devemos) ouvir muito os nossos potenciais clientes. Vamos aprender imenso e seguramente descobrir que aquilo que tinhamos como certeza na nossa cabeça pode não ser bem assim. E tudo isto não tem nenhum problema. Desde que os custos de andarmos para a frente e para trás no processo estejam controlados, esta melhoria iterativa da proposta de valor, só nos trará benefícios no médio e longo prazo.

É isto que propõe o Lean Startup. Conceito criado por Eric Ries, defende que a construção da proposta de valor de uma startup e por consequência o seu próprio negócio, deve ser um processo iterativo de envolvimento dos potenciais clientes. Ao invés da visão tradicional que qualquer negócio começa com um plano de negócios o Lean Startup, defende essencialmente que quanto mais depressa for possível criar um MVP (Minimum Viable Product), mais rápido será possível testar e evoluir a ideia de negócio.

Os Velhos do Restelo

É importante não exacerbar as ideias de negócio, ouvir outras pessoas e criar uma proposta de valor de forma iterativa. Tudo isto são boas maneiras de iniciar a construção de um novo negócio. Contudo é preciso por outro lado ter cuidado também com os Velhos do Restelo que habitam as nossas vidas. O Velho do Restelo é uma figura literária criada por Luis de Camões na sua obra seminal, Os Lusíadas. Esta personagem reúne de forma alegórica todos os medos e receios, bastante característicos da cultura portuguesa. É importante ouvir os outros, mas também é preciso ter cuidado com quem nos vai induzir o medo.

Criar um novo negócio e fazê-lo crescer requer um misto de racionalidade e pensamento analítico, na mesma proporção de alguma audácia e conforto com o desconhecido. É importante tomar decisões ponderadas, claro, mas se o medo de falhar nos consumir em demasia, nunca uma ideia de negócio sairá do papel. As empresas são os agentes fundamentais da economia. Protagonistas verdadeiros de uma mudança que se quer sustentada e inclusiva. Por isso não há muito a temer. O erro faz parte do processo. O mais importante é saber aprender com esses erros num processo iterativo permanente, preferencialmente, claro, de riscos calculados.

Fotografia © Emma Simpson (Unsplash)