A importância da usabilidade em qualquer produto digital e o impacto, positivo ou negativo, que isso pode ter na experiência de utilização será certamente uma não-discussão. Ninguém discordará que para que qualquer produto digital tenha efetivamente relevância junto dos utilizadores e seja bem apreciado por estes, é absolutamente essencial que a sua usabilidade seja o mais simples possível.
Não sendo contestável a relevância do tema, poderá ser mais desafiante, especialmente dependendo de cada caso, definir o que cria ou não uma boa usabilidade. Embora a usabilidade não seja um conceito abstracto e que pode ser alvo de uma avaliação bastante objetiva, é igualmente verdade que está muito longe de ser uma tarefa simples em qualquer produto digital.
Peças fundamentais de uma boa usabilidade
As generalizações de práticas em listas têm sempre um desafio inerente. Simplificar em tópicos aquilo que é e não é relevante para determinado tema, corre sempre o risco de menosprezar uma análise e contextualização mais cuidada de cada assunto. É fundamentar, olhar sempre para estas generalizações com cuidado e cautela, nunca esquecendo, especialmente quando falamos de usabilidade, de fazer uma análise mais cuidada caso a caso.
Ainda assim, existem algumas peças, que independentemente do contexto, do produto digital e até da área de negócio, são quase sempre elementos com grande importância para a usabilidade. Elementos fundamentais para que determinados utilizadores possam concretizar determinadas tarefas da forma mais eficaz, eficiente e satisfatória possível.
1. Palavras
As palavras que utilizamos em todos os momentos da experiência e do interface não são um detalhe. Aliás, existe dentro da disciplina de user experience (UX), existe uma especialidade, o UX writing, exclusivamente focada nesse trabalho. É através das palavras, que conseguimos clarificar as ações do produto, ajudar o utilizador através de mensagens de erro, tornar os conteúdos mais fáceis de ler e compreender, etc.
São as palavras que guiam os utilizadores na navegação pelas inúmeras áreas e funcionalidades dos produtos e os ajudam atingir objetivos. São também as palavras, quando rebuscadas e complexas, que geram desconfiança, criam incerteza e isso num produto digital, quer dizer no final do dia, danos para os negócios das empresas.
2. Feedback
Um produto digital é sempre uma experiência interativa. Como se de uma conversa se tratasse entre o utilizador e o interface. Uma conversa onde o utilizador vai fazendo determinadas ações e obtém determinadas respostas, conseguindo ou não, pelo caminho concretizar aquilo para o qual ali se dirigiu. Seja através de efeitos de resposta de interação com botões, animações, transições, mensagens de sucesso ou de erro, tudo isto são respostas que o interface dá ao o utilizador e que o orientam nesta “conversa”.
Imagina que estás numa conversa com alguém e que tu falas e que do outro lado não obténs nenhum tipo de resposta. A pessoa não te diz se concorda ou não contigo. Não percebes se ela te está a perceber ou se quer a ouvir. Isto é um produto digital sem feedback. Para todas as ações os utilizadores esperam algum tipo de resposta.
3. Performance
Embora também muito relacionada com uma uma dimensão tecnológica, a performance do produto é também outro ponto fundamental para a usabilidade. Igualmente relacionado com o tópico do feedback, a performance do produto digital é aquilo que permite acompanhar o ritmo de interação do utilizador com o produto.
Por exemplo, uma página que demora imenso tempo a carregar é uma página que vai gerar incerteza no utilizador: “será fiz bem?”, “o que está acontecer?”, “falta alguma coisa?”. Uma opção de menu que não abre ou um conteúdo em mobile que carrega aos soluços, são tudo situações onde a performance vai prejudicar de foram determinante aquilo que são as expectativas dos utilizadores.
Avaliar é sempre o primeiro passo
A par do trabalho destas e de outras peças fundamentais para a usabilidade de qualquer produto digital, é muito importante ter a consciência clara que nada disto retira a importância de uma avaliação regular e recorrente junto dos utilizadores. Só através de ferramentas como os testes de usabilidade é possível fazer uma avaliação mais cuidada e aprofundada da qualidade real da experiência.
Este é um exercício que pela sua riqueza e especificidade não pode viver aliado do dia a dia das equipas de produto digital. Esta nunca é uma equação de fazer uma coisa ou outra, mas sim, acreditar que é no somatório do trabalho com especialistas e de uma avaliação cuidada com os utilizadores, que se constroem experiências de excelência com uma usabilidade de excelência.
Fotografia © Gilles Lambert (Unsplash)