Documentar um caso de estudo de UX para o portfolio

Que o design é uma disciplina incrivelmente visual, acredito que muito poucos o negaram, especialmente se em algum momento já tenha consultado o portfolio de um designer. Existem muitas vertentes de trabalho dentro do design, ora seja o design gráfico ou o de produto, passando claro, pelo produto digital. Em todas elas é notória a importância da dimensão visual na documentação do trabalho deste perfil de profissionais.

Acontece que esta preponderância visual, especificamente dentro do trabalho de produto digital, mais em concreto quando falamos de UX, acarretam muitos desafios aos designers quando estes têm que criar os seus portfolios. O UX não diz respeito só ao visual do interface. Ele é também processo e passa pela realização de inúmeras atividades de pesquisa que vão ajudar a chegar a solução de experiência mais otimizada possível. Acontece que por causa desta natureza mais processual, muitas vezes é bastante difícil aos designers criarem modelos para documentar este tipo trabalho.

A bem da verdade, os artefactos que normalmente resultam de um processo de UX não são muito sexy para se colocar num portefolio, mesmo que seja um UX Designer. Isto até pode ser verdade (mais ou menos) mas atenção. Se dizemos muitas vezes que em design procuramos resolver os problemas das pessoas e para isso a pesquisa e o trabalho interativo são fundamentais, quando apresentamos um projeto, mesmo que seja no contexto do portfolio, não podemos excluir essas componentes da história que vamos contar. Será que deveríamos descartar isso da documentação do projeto, só porque é difícil de ilustrar isso de forma visual? Não, claro que não.

Então se chegados aqui todos concordamos que seja lá como for, não podemos excluir os artefactos de todas as atividades de UX da documentação do projeto. A pergunta que importa é: como é que fazemos isso? Como é que inserimos todo o trabalho de UX num case de um projeto sem que ele pareça um projeto de uma aplicação que foi feita nos anos 90? Já lá vamos!

Cuidados na documentação de um case de UX

Antes de ir à resposta que interessa, talvez seja importante dar alguns passos atrás e pensar sobre aquilo que deve e não deve ser um case de um projeto de UX. Online vais encontrar milhares de artigos sobre este tema. Artigos como “As 10 coisas que tens que saber sobre um portfolio vencedor” ou então “Tudo o que precisas saber para fazer o melhor portfolio de sempre”. Podes ler todos eles. Não vai cair o mal ao mundo, mas existem alguns aspetos que talvez fossem importantes ter em conta no momento de criar um case de UX e que muito provavelmente não vais encontrar neste tipo de artigos.

1. Ser transparente

Se o portfolio vai reunir alguns dos teus melhores trabalhos e sabendo que o design é sempre um trabalho de equipa, é muito importante que seja claro qual foi exatamente o teu papel em cada projeto.

Falar verdade só te pode trazer benefícios. Seja num processo de recrutamento ou na relação com os colegas. E por isso não queiras assumir créditos no projeto sobre coisas que não têm a tua intervenção directa, mesmo que seja por omissão.

2. História para não-designers

Este ponto é altamente polémico, mas sabendo que o design, especialmente quando aplicado à transformação digital, pode ter um impacto bastante transversal nas empresas, não faria sentido documentares os teus projetos de modo a que mais pessoas, para lá da equipa de design, possam compreender o que tens para partilhar? Parece-me que sim.

Como é que isto se faz na prática? Documenta o projeto com mais do que imagens de artefactos de design. Fala sobre o projeto em si e que soluções é que a equipa encontrou para resolver o problema inicial. Como foi gerido o projeto e os seus processos de trabalho entre as várias equipas. O papel do design é mais que fazer “bonecos” e por isso deveríamos conseguir apresentar os nossos projetos como sendo mais que “bonecos”.

3. Não tenhas medo do tamanho

Fazer um case de UX pode ser um exercício muito redutor. Afinal de contas vamos tentar resumir em meia a dúzia de píxeis, aquilo que foram meses (as vezes) anos de trabalho. Seja de pesquisa, ideação, trabalho de equipa, dúvidas, as soluções, tudo isto pode estar neste case e tu terás que escolher o que fica dentro e o que fica de fora.

Depois também temos por outro lado aquela ideia de que as pessoas “não lêem”. É natural que as pessoas que vão ver o nosso portfolio não leiam tudo aquilo que temos para lhes mostrar, mas isso é razão para deixarmos partes importantes do projeto de fora da história que vamos contar, precisamente desse projeto. Não, claro que não. O mais importante no caso é que ele esteja bem estruturado, por capítulos e não seja um resumo demasiado curto de projetos que são muitas vezes bastante complexos.

Exemplos de cases

Vamos então à questão principal e que por ventura te pode interessar mais. Como podemos documentar atividades no processo de UX que muitas vezes são difíceis de ilustrar? A resposta é fácil! Vê quem faz isso bem. Aprende. E cria a tua solução. Parece simples não? Mas até é. Em UX, é comum dizermos que a concorrência são para nós protótipos a custo zero. Ai podemos ver e testar soluções que funcionam e outras que não funcionam tão bem.

Neste caso a lógica é exactamente a mesma. Não numa lógica de concorrência, mas com a hipótese de ver como outras equipas documentam o seu trabalho. Perceber o que pode funcionar e não e o que pode fazer mais sentido para o nosso próprio portfolio. Para te ajudar neste processo de pesquisa, aqui ficam alguns exemplos de cases de trabalho de UX (e não só) que ilustram lindamente as várias etapas de trabalho do projeto.

With Company

Pixelmatters

Significa

Untile

Work&Co

Design Systems International

Não existem fórmulas perfeitas

A todos estes exemplos de cases de projetos poderiamos acrescentar muitos mais. Ao ver todos estes exemplos é fácil perceber que não existe uma única solução. Podemos ter inúmeras fórmulas para construir um case de UX e todas igualmente válidas.

É importante perceber qual a solução que vai de encontro à nossa própria identidade enquanto designers e como queremos mostrar o nosso trabalho através da documentação daquilo que fazemos em projeto. O resto é o processo normal de design. Experimentar, avaliar, aprender e melhorar na iteração seguinte.

Fotografia © Brigitta Schneiter (Unsplash)